As reservas de xisto no Brasil

Ricardo Patah

Presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores - UGT


16/09/2013

A preocupação com a independência energética, aliada à pesquisa tecnológica nos Estados Unidos, produziram um fenômeno novo no campo da energia: os americanos começaram a produzir gás de xisto! José Goldemberg, professor emérito da Universidade de São Paulo, diz: A possibilidade técnica de usar esse gás é conhecida há muito tempo, mas o custo de exploração só a tornou viável nos últimos anos. 

 

A partir do ano 2000 houve uma "explosão" no aumento da produção: em 2000 o gás de xisto representava 1% do gás natural produzido nos Estados Unidos, em 2010 eram 20% e existem previsões de que em 2035 serão quase 50% (Estadão, 20-05)". A bomba é maior quando se verifica o custo do gás de xisto, apenas um quinto do preço do gás vendido no Brasil: aqui, para um milhão de BTU, 9 dólares, nos Estados Unidos apenas 1,82 dólares.

 

O resultado dessa nova realidade é a reorientação dos investimentos. Empresas que têm um terço de seus custos em energia, casos de cerâmica e vidro, química e petroquímica, vão parar de produzir no Brasil e importar produtos acabados. Já anunciaram a interrupção de produção no Brasil a Cebrace, a Guardian e a AGC Vidros. O governo, que só toma medidas emergenciais e de última hora, anunciou de desoneração dos impostos para o setor químico.

 

O Brasil, ainda sem tecnologia própria, tem reservas de xisto estimadas em 6,4 trilhões de metros cúbicos, mas está atrás de China, Estados Unidos, Argentina, México, África do Sul, Austrália, Canadá, Líbia e Argélia. Para focalizar somente países emergentes, a China possui reservas seis vezes maiores do que o Brasil, o México três vezes, a África do Sul duas vezes maior.

 

Somente agora, depois que a bomba americana foi divulgada nos jornais é que a ANP (Agência Nacional de Petróleo) incluiu a exploração do xisto no próximo leilão de blocos de gás, previsto para o final de outubro. O Brasil está entrando tarde na corrida pelo gás de xisto, atrasado na produção nacional de gás e petróleo, negligente na construção de novas hidrelétricas, sem política adequada para o etanol, sem saber quando vai poder utilizar energia aeólica e, enfim, expondo o nosso apagão de inteligência.