Cantareira fecha março com chuva acima da média

31/03/2016

 

O nível de água do Sistema Cantareira registrou nova alta nesta quinta-feira (31) e opera com 65,4% da sua capacidade, segundo dados divulgados pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Na quarta-feira (30), o manancial operava com 65,2%.

 

O sistema fecha o mês de março com uma chuva acumulada de 179,6 mm, o equivalente a 0,89% acima do esperado para todo o mês, que era 178 mm. O nível de água subiu nos 31 dias.

 

Contudo, março de 2015 segue como o março mais chuvoso desde 2008. Os reservatórios do manancial, que abastece 5,7 milhões de pessoas na Grande São Paulo receberam 206,5 mm de chuva naquele mês.

 

Em 30 de dezembro de 2015, o Sistema Cantareira deixou a dependência do volume morto após 19 meses.

 

O Sistema Rio Claro também registrou alta nesta quinta. O Alto Cotia se manteve estável em relação a terça, e os demais sistemas que abastecem a Grande São Paulo perderam água. Veja o nível de todos os sistemas:

 

- Cantareira: 65,4% da capacidade

- Alto Tietê: 43,2% da capacidade

- Guarapiranga: 87,6% da capacidade 

- Alto Cotia: 100,2% da capacidade 

- Rio Grande: 96,6% da capacidade

- Rio Claro: 102,6% da capacidade 

 

Índices

 

Após uma ação do Ministério Público (MP), aceita pela Justiça, a Sabesp passou a divulgar outros dois índices do Cantareira. Nesta quinta, o segundo estava em 50,6% e considera o volume armazenado na capacidade total, incluída a área do volume morto. O terceiro índice leva em consideração o volume armazenado menos o volume morto na área total dos reservatórios e estava em 36,1% nesta manhã.

 

O Cantareira chegou a atender 9 milhões de pessoas só na Região Metropolitana de São Paulo, mas atualmente abastece 5,7 milhões por causa da crise hídrica que atingiu o estado em 2014. Os sistemas Guarapiranga e o Alto Tietê absorveram parte dos clientes, para aliviar a sobrecarga do Cantareira durante o período de estiagem.

Volume Morto

A reserva técnica começou a ser bombeada em maio de 2014. Na época, ainda havia água no volume útil. Em julho, porém, o sistema passou a operar somente com o volume morto. Especialistas ouvidos pelo G1, no entanto, alertam que o Cantareira ainda segue em crise porque não se recuperou totalmente. A Sabesp também informou que não descarta voltar a usar a reserva técnica no próximo período seco, com a chegada do inverno.

 

O QUE É O VOLUME MORTO

O volume morto é uma reserva com 480 bilhões de litros de água situado abaixo das comportas das represas do Cantareira. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população. Em maio de 2014, bombas flutuantes começaram a retirar essa água. A decisão de fazer essa captação foi tomada por causa da crise hídrica que atingiu o estado de São Paulo no ano passado.

O governo do estado tentou fazer desvios para usar a água de outras represas, mas essas manobras não foram suficientes para atender toda a população da Região Metropolitana de São Paulo. Após o nível do sistema atingir um patamar preocupante, a Sabesp começou a fazer obras para conseguir bombear a água do volume morto.

 

CRONOLOGIA DO VOLUME MORTO

- 15/05/2014: bombas flutuantes para retirada da primeira reserva técnica são inauguradas.

- 16/05/2014: 182,5 bilhões de litros de água são disponibilizados para abastecimento da Grande São Paulo. Mesmo assim, a sequência de quedas no nível das represas continua.

- 11/07/2014: volume útil do Cantareira acaba e o abastecimento de parte da Região Metropolitana de São Paulo atendida pelo Cantareira é feito somente com a primeira cota.

- 24/10/2014: Sabesp consegue autorização para usar uma segunda cota do volume morto, com 105 bilhões de litros.

- 24/02/2015: segunda cota do volume morto é recuperada, mas a Sabesp ainda depende da primeira cota do volume morto para garantir o abastecimento de 5,4 milhões de pessoas atendidos pelo Cantareira na Grande São Paulo.

- 30/12/2015: sistema consegue recuperar as duas cotas do volume morto e volta a operar apenas com o volume útil.

 

SAÍDA ANTES DO ESPERADO

O término do uso do volume morto ocorreu antes do esperado pela Sabesp. A companhia de abastecimento havia previsto que o sistema operasse com a reserva técnica até o fim do verão, mas a chuva acima da média nos últimos meses acelerou o processo e as represas passaram a acumular mais água por causa da precipitação intensa e afluência dos rios que desaguam no reservatório.

A companhia de abastecimento informou que usa cenários afluência e pluviometria desde 1930 e que em apenas dois deles não seriam registrados índices de chuva para que o manancial deixasse a reserva técnica até abril. Para fevereiro, a probabilidade de saída do volume morto era de 85%, segundo a Sabesp.

 

No mês de novembro de 2015, o sistema registrou 197,6 milímetros de chuva, 23,1% acima da média histórica, de 160,4 mm. O volume ficou atrás apenas do verificado em 2009, quando a precipitação total no conjunto de represas, considerando os 30 dias do mês, foi de 237,6 milímetros.

 

Nesse mesmo período, o El Niño ganhou força e teve impactos no Brasil, como temporais no Sul e seca no Nordeste. Especialistas ouvidos pelo G1, no entanto, divergem sobre a influência do fenômeno climático para ajudar São Paulo a sair da crise hídrica antes do esperado.

 

Segundo o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador geral de operações e modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), estatisticamente não há uma relação entre o El Niño com as chuvas no Sudeste.

 

“Talvez a única relação que temos, nós pesquisadores, é que durante os anos do El Niño as chuvas no Sudeste ficam longe da normalidade", afirmou. O meteorologista explica que São Paulo teve novembro e dezembro mais chuvosos, o que não significa que janeiro e fevereiro seguirão a mesma tendência porque o El Niño pode oscilar entre períodos mais secos e mais chuvosos.

 

Fonte: G1