Sindicato faz passeata pela vida dos comerciários

13/04/2016


 

Movimento quer segurança, fim do abuso e do desvio de função

 

Nesta quarta-feira, 13, o Sindicato dos Comerciários de São Paulo fez uma passeata em protesto pela morte de um funcionário da loja Grapete por acidente de trabalho.

 

No dia 03 de fevereiro, Edmilson dos Santos Braz, de 46 anos, abastecia com gasolina um gerador de energia doméstico da loja quando o equipamento explodiu. O trabalhador sofreu queimaduras gravíssimas e morreu um dia depois no hospital.

 

Acontece que Edmilson não era contratado para essa função e mais: estava sem equipamento de proteção.

 

A manifestação ocorreu na rua José Paulino, conhecida como "o paraíso das compras", onde fica a loja. Os manifestantes pararam em frente à Grapete e, a pedido de Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo e da União Geral dos Trabalhadores (UGT), fizeram um minuto de silêncio em homenagem a Edmilson.

 

 

 

O objetivo do Sindicato foi chamar a atenção dos comerciantes e de toda a sociedade para a importância da segurança no ambiente de trabalho.

 

“Este é um ato de indignação. Estamos vivendo um momento caótico no País, mas a crise passa. Já uma vida não se recupera. Nós exigimos que os órgãos competentes não apenas esclareçam essa fatalidade como não permitam que casos como esse se repitam. Estamos falando de seres humanos, de vidas. Os comerciários – assim como todos os trabalhadores – precisam de segurança para trabalhar. Não somos máquinas e não podemos ser tratados como tal. A saúde de um cidadão está acima de qualquer coisa”, disse Ricardo Patah.

 

O presidente falou, ainda, sobre a gravidade do desvio de função: “Edmilson morreu exercendo uma atividade para a qual ele não era contratado. Quem lida com geradores tem que ser treinado para isso e precisa estar com equipamentos de proteção. Desviar a função de um empregado, humilhá-lo e exigir que ele faça de tudo é um ato desumano”.

 

De acordo com comerciários de outras lojas da José Paulino que, por receio de perder o emprego, preferiram não se identificar, o uso de geradores de energia domésticos, sem qualquer proteção exigida pelas Normas Regulamentadoras (NR's), é comum nos estabelecimentos da região. Ainda segundo eles, quase todos os donos das lojas da rua são coreanos e cometem muitas irregularidades. “Os patrões não estão preocupados conosco. Eles só querem saber de lucro. Não temos refeitório para almoçar, temos que comer ao lado do banheiro, nosso estoque está cheio de ratos, mas, para limpar, é preciso contratar alguma empresa e o patrão não vai gastar com isso. O caso do Edmilson foi a mesma coisa. Teriam que contratar alguém para cuidar do gerador, mas preferiram arriscar a vida dele e deu no que deu”, disse uma das trabalhadoras da região. 

 

A maioria dos comerciários entrevistados conhecia Edmilson. “Ele trabalhava aqui há muitos anos. Era conhecido e querido. Edmilson era casado e, há seis meses, sua mulher descobriu que está com câncer. Foi uma tragédia na vida dela”, disse o funcionário de uma das lojas.

 

Para o vice-presidente do Sindicato dos Comerciários, José Gonzaga da Cruz, “não se trata apenas de um caso trabalhista. É uma ação criminal. É necessária e urgente a fiscalização do Ministério Público para que não ocorram mais mortes”. 

 

O movimento sindical foi às ruas para exigir o extermínio do abuso com o trabalhador. “A empresa tem responsabilidade no caso. O gerador é uma bomba-relógio prestes a explodir dentro da loja. Abastecê-lo não era a função de Edmilson. Sem proteção e segurança, então, não deveria ser a função de ninguém. Vamos ficar em cima da fiscalização para garantir a vida dos comerciários”, disse Josimar Andrade, diretor do Sindicato. 

 

Uma consumidora, que passava pela rua, apoiou a ação sindical: “Tem que se manifestar. Tem que chamar a atenção. As pessoas só estão preocupadas com o lucro e se esquecem da vida. Isso acontece em todos os setores. E os trabalhadores, por falta de alternativas e medo de ficarem desempregados, se sujeitam a qualquer situação”, disse Maria Helena Souza. 

 

Edmilson era sócio do Sindicato dos Comerciários e sua esposa está recebendo o apoio necessário. 

 

A passeata contou com a participação de diretores do Sindicato dos Comerciários, da UGT, Siemaco, do Sindicato dos Padeiros e da Fenascon. 

 

Tentamos contato com o dono da Grapete, mas ele não quis se manifestar.

 

 

 

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