Após cinco anos, sonda Juno chega hoje a Júpiter

04/07/2016

Se você quer conhecer os segredos de Júpiter, quem melhor que a mulher dele para revelá-los? A sonda americana Juno, batizada com o nome da esposa do deus dos deuses, chega hoje ao maior planeta do Sistema Solar.

 

Em pleno feriado americano da Independência, funcionários do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa farão plantão para monitorar a delicada manobra de inserção orbital da espaçonave.

 

Aliás, a palavra-chave aí é "monitorar" mesmo. E fazer figas. No piloto automático, a sonda Juno fará toda a manobra sozinha, e aos controladores em terra só caberá monitorar o sinal e se certificar que tudo foi como planejado. Ou não.

 

"Estou empolgado, mas também estou nervoso", conta Scott Bolton, cientista-chefe da missão e pesquisador do Southwest Research Institute, em San Antonio (EUA).

 

A SAGA DE UM DEUS

 

A manobra deve acontecer entre 23h30 de segunda e 0h05 de terça (de Brasília), mas não se esqueça de que Júpiter está neste momento a 48 minutos-luz da Terra. Ou seja, tudo será observado daqui com um atraso de quase uma hora, de modo que o sinal de acionamento dos motores deve ser captado pelas antenas da Nasa às 0h18, e o de desligamento, às 0h53.

 

Se tudo correr bem, a Juno deve se tornar a segunda sonda da história da exploração espacial a se estabelecer ao redor de Júpiter. A primeira foi a Galileo, que partiu em 1989 e chegou lá em 1995.

 

Maior dos planetas do Sistema Solar, Júpiter ganhou na Antiguidade o nome do deus dos deuses da mitologia greco-romana.

 

Seguindo a lógica, as quatro principais luas jovianas, descobertas no século 17 (Europa, Io, Ganimedes e Calisto), receberam nomes de amantes dele.

 

E agora a sonda Juno chega para representar a ciumenta "número um" de Júpiter com bom motivo: em sua órbita polar ao redor do planeta, ela se aproximará mais dele que qualquer de suas luas e terá a capacidade de enxergar através do típico véu de mentiras de seu marido infiel.

 

Numa trajetória elíptica bastante excêntrica, a Juno vai se alternar entre aproximações e afastamentos do planeta, passando a cerca de 4.200 km da cobertura de nuvens do gigante gasoso em seu perijove –nome dado ao ponto de mínima distância a Júpiter.

 

SEGREDOS ÍNTIMOS

 

Como se poderia esperar de uma esposa, seu interesse no planeta vai além das aparências –a Juno se destina a investigar os mistérios do interior do gigante gasoso, ocultados por suas nuvens e a imensa turbulência atmosférica.

 

Para isso, a sonda é equipada com nove instrumentos –o menos importante dos quais é sua câmera de luz visível, a JunoCam.

 

A rigor, ela é desnecessária para a conclusão dos objetivos científicos da sonda, mas a Nasa considerou criminoso enviar uma espaçonave até Júpiter –cinco vezes mais longe do Sol que a Terra– numa jornada de cinco anos, a um custo de cerca de US$ 1,1 bilhão, sem equipá-la com uma câmera capaz de enxergar em luz visível –aquela que nossos olhos veem.

 

Entre os instrumentos mais importantes estão o magnetômetro, que permite medir o poderoso campo magnético joviano –cerca de 20 mil vezes mais intenso que o terrestre- e assim compreender como ele é gerado.

 

A estrutura interna de Júpiter ainda é um grande mistério. Sabemos que ele é formado principalmente por hidrogênio e hélio, mas outros detalhes de sua composição são desconhecidos.

 

Outros "instrumentos" que a sonda carrega são três bonecos Lego: um do deus Júpiter, outro de sua mulher Juno e o terceiro do astrônomo Galileu Galileu, que descobriu as quatro luas ao redor do planeta com um telescópio fabricando por ele.

 

Um dos maiores esforços da sonda Juno consistirá em bisbilhotar, por meio de micro-ondas, as profundezas de Júpiter em busca de sinais de oxigênio –provavelmente ligado a hidrogênio para formar aquela molécula velha conhecida, água.

 

A ideia é que a quantidade de água presente em Júpiter ajude a estimar em que região do Sistema Solar o planeta se formou.

 

Até cerca de 20 anos atrás, era consenso que o planeta teria se formado mais ou menos onde está, junto ao Sol e os demais planetas, 4,6 bilhões de anos atrás.

 

Contudo, o estudo de exoplanetas (de fora do Sistema Solar) revelou que mundos gigantes, como Júpiter, podem migrar da região de seu lugar de origem ao longo do tempo, e isso plantou a dúvida na cabeça dos cientistas. Será que algo assim teria acontecido a Júpiter? A Juno poderá dar pistas sobre a questão.

 

Outro problema que a sonda planeja atacar é se o planeta possui um núcleo denso composto por elementos pesados em seu interior –algo que pode revelar se ele se formou mesmo a partir de um embrião rochoso que posteriormente agregou pela gravidade seu imenso invólucro de gás, como pensam hoje os cientistas.

 

A sonda deve completar sua missão até fevereiro de 2018, quando ela será induzida a mergulhar em Júpiter para não contaminar acidentalmente alguma de suas luas geladas com bactérias terrestres. 

 

Fonte:  Folha de SP