'Prévia do PIB' cresce 1,12% e sinaliza retomada da economia no 1º trimestre

16/05/2017


O desempenho do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) do primeiro trimestre reforça a expectativa do mercado de que o Produto Interno Bruto (PIB) deve voltar a apresentar um número positivo no primeiro trimestre, após uma sequência ininterrupta de oito trimestres de retração na comparação com o período imediatamente anterior. Essa é a avaliação de economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast logo após a divulgação do indicador do BC nesta segunda-feira, 15.

 

Contudo, dizem os especialistas, o avanço esperado no PIB condiz mais com um cenário de estabilização da economia do que com uma recuperação consistente da atividade. Isso principalmente porque o resultado do primeiro trimestre é bastante influenciado por fatores pontuais e pode ser parcialmente revertido entre abril e junho. O fator principal é a influência da agropecuária, que deve mostrar forte crescimento no PIB do período, mas deve diminuir a intensidade ao longo do ano.

 

A forte de revisão dos dados do comércio e nos serviços em janeiro, em função das mudanças metodológicas nas pesquisas, também colabora para um PIB mais robusto na primeira parte do ano. Para o resultado do PIB de 2017, os economistas avaliam que o cenário não mudou, com expectativa de crescimento modesto, em linha com a estimativa de recuperação lenta e gradual da economia.

 

O IBC-Br avançou 1,12% no primeiro trimestre ante o quarto, em linha com a mediana da pesquisa do Projeções Broadcast, de 1,10%, a partir do intervalo de 0,60% a 1,30%. Em março, contudo, o indicador recuou 0,44%, taxa melhor que a mediana prevista, de queda de 0,90% (intervalo de -2,50% a zero).

 

Produção industrial cai 1,8% em março ante fevereiro, mas sobe 1,1% em um ano

 

"Esses números reforçam a expectativa de recuperação lenta e gradual da economia, que também está espalhada nos números setoriais, com oscilações entre alta e baixa. O PIB do segundo trimestre deve ter alguma devolução da alta do primeiro trimestre, mas o importante é que a tendência é de estabilização", resume o economista-chefe do Rabobank Brasil, Mauricio Oreng. O economista estima crescimento de 1,3% de janeiro a março e variação zero neste ano.

 

O economista do Santander Rodolfo Margato, que prevê 1,1% para o PIB do período, calcula que metade dessa expectativa se deve à agropecuária, com contribuição de 0,6 ponto porcentual graças ao crescimento de 11,5% do setor. "O PIB do 1º trimestre deve ser uma notícia positiva, mas pontual, não podemos esperar um crescimento neste ritmo médio nos trimestres seguintes", diz.

 

O economista da Tendências Bruno Levy reforça que teria ocorrido um "estrago" na leitura da atividade medida pelo Banco Central se o IBC-Br de março e do primeiro trimestre dependessem apenas dos dados de comércio, serviços e indústria.

 

Margato também argumenta que a revisão forte no volume de serviços prestados em janeiro (de queda de 2,2% para estabilidade) depois da mudança metodológica na pesquisa deve contribuir com 0,3 ponto porcentual para o PIB do primeiro trimestre. "É relevante, porque antes esperava-se que o setor ia seguir em queda no período."

 

Diante disso, a dúvida que fica é sobre o desempenho da economia no segundo trimestre, diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em razão das oscilações dos dados mensais. "Além disso, deve ter o carrego estatístico ruim de março, quando os indicadores de atividade tiveram queda. Depois, no terceiro trimestre, pode ganhar mais força", acrescenta o economista da GO Associados Luiz Castelli ao referir-se ao resultado do PIB de abril a junho. No ano, a estimativa é de crescimento de 0,6%.

 

Já o economista Mauricio Nakahodo, do MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group), dono do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil, espera que o avanço econômico previsto na primeira parte do ano se repita nos próximos trimestres, mas com maior participação da indústria, comércio e serviços. No primeiro trimestre, a sua expectativa de aumento de 0,4% do PIB deriva do desempenho da agropecuária e da mineração.

 

Copom. Diante da proximidade do encontro deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom), os analistas consultados concordaram que os dados de atividade, além de inflação controlada, ainda deixam espaço para o BC acelerar o ritmo de corte da Selic. "Tem espaço para um corte mais agressivo. Depois, pode voltar a reduzir o ritmo para 1 ponto", avalia Castelli, da GO, que estima redução da Selic para 10%, do atual patamar de 11,25%.

 

Contudo, alguns analistas acreditam que, para tal movimento, o BC precisa ver um cenário mais claro de aprovação da reforma da Previdência. Segundo Margato, do Santander, para a autoridade monetária optar por corte maior que de 1,0 ponto porcentual é preciso não somente que a proposta seja aprovada em 1º turno no plenário da Câmara, mas também que o placar seja favorável. "Ainda assim, é mais provável que o impacto seja para a estimativa da Selic no final do ano e não diretamente para maio", diz Margato, que espera 8,5% para a taxa no fim de 2017.

 

Fonte: Estadão