Relatório do BC divide analistas sobre tamanho do corte nos juros

23/06/2017


O mercado financeiro passou a enxergar chances maiores de o Banco Central manter em julho o ritmo de corte de 1 ponto porcentual da Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 10,25% ao ano. A divulgação do Relatório Trimestral de Inflação do BC deixou, na visão dos analistas financeiros, aberta a possibilidade de continuar intensa a sequência de queda, a despeito das preocupações com os efeitos negativos da crise política sobre a inflação. Nas expectativas para o final de 2017, já começam a surgir apostas em uma taxa de 8,5% a.a. para a taxa básica de juros da economia (Selic). 

 

No encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) no fim de maio, o BC havia indicado a intenção de reduzir o ritmo, talvez para 0,75 ponto porcentual, principalmente porque o andamento das duas principais reformas do governo - trabalhista e previdenciária - no Congresso ficou ameaçado pela crise política.

 

Na última terça-feira, as preocupações da autoridade monetária com o trâmite legislativo se mostraram procedentes, com a derrota sofrida pelo governo na votação do parecer da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado. Já a votação da reforma da Previdência na Câmara entrou em compasso de espera na Câmara, que deve levar a medida à votação somente em agosto ou setembro.

 

Na prática, sem as reformas, o BC enxerga dificuldades para que o governo coloque a área fiscal nos eixos, o que é essencial para quedas mais consistentes da Selic no longo prazo.

 

Após o relatório de inflação, no entanto, a percepção do mercado foi de que o corte de 1 ponto porcentual na reunião do Copom de julho não está descartado e as apostas se dividiram entre 0,75 ponto porcentual e 1 ponto. Isso porque a inflação segue acomodada e a economia continua em marcha lenta, incapaz de pressionar os preços.

 

"O BC não insistiu tanto na ideia da moderação da taxa Selic agora", disse o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Guilherme Perfeito. "Acho que eles vão cortar a Selic em 1 ponto em julho, porque a inflação estará muito baixa e a atividade também."

 

Para o economista-sênior do Haitong Banco de Investimento do Brasil, Flávio Serrano, o mais provável para julho ainda é que o Copom corte a Selic em 0,75 ponto porcentual, em função das preocupações com o andamento das reformas. "Porém, parece óbvio que, pelo bom comportamento da inflação e pelas expectativas de uma atividade ainda fraca, 1 ponto porcentual não pode ser descartado", disse.

 

Levantamento feito após a divulgação do relatório pelo Projeções Broadcast mostra que, de 40 instituições financeiras, 32 esperam corte de 0,75 ponto porcentual da Selic, o que levaria o juro básico para 9,5% ao ano. Outras oito casas projetam corte de 1 ponto porcentual, para 9,25% ao ano.

 

"Em nenhum momento nos comprometemos com decisões futuras", ressaltou ontem o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, ao falar sobre o futuro da Selic.

 

O que já está claro entre os economistas é que, seja qual for a decisão, o Brasil está prestes a voltar a ter juros de um dígito - algo que não ocorre desde novembro de 2013.

 

Na última quarta-feira, durante visita ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, o presidente Michel Temer já havia expressado a ansiedade do governo em relação à queda da taxa. "Em brevíssimo tempo teremos juros de um dígito no País", disse.

 

A expectativa atual do mercado financeiro é de que a Selic, no fim de 2017, chegue aos 8,5% ao ano. Com o juro básico neste patamar, ou abaixo dele, a remuneração da caderneta de poupança muda; passa a ser o equivalente a 70% da taxa básica, mais a taxa referencial (TR). Esta regra entrou em vigor durante o governo de Dilma Rousseff. Enquanto a Selic se mantiver acima dos 8,5%, a poupança seguirá remunerada por 0,5% ao mês, mais a TR.     

 

O espaço para juros mais baixos é dado pela inflação, que segue acomodada. No relatório de ontem, o BC reduziu a projeção para a inflação em 2017, de 4% para 3,8%. Para 2018, a expectativa passou de 4,6% para 4,5%.

 

Ao mesmo tempo, o BC manteve em 0,5% a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, apesar de a crise política também lançar dúvidas sobre a recuperação da economia. Novamente, é o setor de agropecuária que tende a segurar a atividade, com crescimento previsto de 9,6% este ano. Pelas projeções, o PIB da indústria deve crescer apenas 0,3% e o setor de serviços tende a amargar retração de 0,1%.

 

Fonte: Estadão