Filho de ministro do TCU é alvo da 45ª fase da Lava Jato

23/08/2017

O advogado Tiago Cedraz – filho do ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU) – é um dos alvos de busca da 45ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta quarta-feira (23) em Salvador, Brasília e Cotia (SP). Ao todo, quatro mandados de busca e apreensão foram cumpridos na atual fase, batizada de Abate II.

Segundo a TV Globo apurou, há uma intimação para que Tiago Cedraz compareça imediatamente à superintendência regional da Polícia Federal, em Brasília, para prestar depoimento. Ele avisou à PF que irá depor às 10h. Os mandados de buscas contra ele foram cumpridos na Asa Sul, bairro nobre de Brasília.

 

Segundo as investigações, o lobista Jorge Luz, que está preso em Curitiba, disse em depoimento que o advogado Tiago Cedraz intermediou conversas entre a empresa norte-americana Sargeant Marine e a Petrobras e que ele teria recebido US$ 20 mil em propina por isso. Cedraz recebeu os recursos em contas mantidas na Suíça em nome de offshores, ainda de acordo com as investigações.

 

O advogado divulgou nota reiterando "sua tranquilidade quanto aos fatos apurados por jamais ter participado de qualquer conduta ilícita". Cedraz afirma ainda que "confia na apuração conduzida pela Força Tarefa da Lava Jato e permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários".

 

Principais suspeitas

Operação Abate II apura a participação de 2 advogados em esquema de propina na Petrobras.

A ação é uma continuação da Abate I, realizada há 5 dias para investigar irregularidades na contratação da Sargeant Marine pela Petrobras.

Segundo a força-tarefa da Lava Jato, a Sargent pagou US$ 500 mil ao PT, ao ex-deputado Cândido Vaccarezza e a funcionários da Petrobras para fornecer asfalto à estatal.

A Abate II indica que Cedraz e outro advogado receberam comissões em contas na Suíça para facilitar a contratação da Sargent pela Petrobras.

 

Operação Abate I

A operação Abate I, como foi chamada a 44ª etapa da Lava Jato, foi deflagrada na última sexta (18) e prendeu o ex-deputado federal Cândido Vaccarezza pela suspeita de ter recebido propina em troca de um contrato obtido pela Sargeant Marine na estatal.

 

Ele foi solto quatro dias depois, mas terá que pagar fiança estipulada pelo juiz Sérgio Moro de R$ 1.522.700. Ainda assim, o ex-deputado é alvo de um dos mandados de busca da atual fase da Lava Jato.

 

Cândido Vaccarezza foi líder dos governos Lula e Dilma na Câmara dos Deputados. Ganhou fama de articulador hábil e ecumênico, com trânsito nas bancadas de partidos que tradicionalmente fazem oposição ao PT. Ele deixou o partido em 2016, após 35 anos de militância, e filiou-se ao PTdoB, que recentemente mudou de nome para Avante.

 

Após a prisão, a defesa do político negou as acusações. "Cândido Vaccarezza nunca intermediou qualquer tipo de negociação entre empresas privadas e a Petrobras. A prisão foi decretada com base em delações contraditórias, algumas já retificadas pelos próprios delatores. A busca e apreensão excedeu os limites da decisão judicial, confiscando valores declarados no imposto de renda e objetos pertencentes a terceiros sem vínculo com a investigação", disse o advogado Marcellus Ferreira Pinto em nota.

 

Citado em delações

Nos últimos anos, Tiago Cedraz se tornou um nome recorrente na Lava Jato. Em julho de 2015, o advogado já havia sido alvo de mandado de busca e apreensão em seu escritório de advocacia, o Cedraz Advogados.

 

Um dos delatores do esquema de corrupção que agia na Petrobras, o empresário Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, afirmou que o filho de Aroldo Cedraz pediu R$ 1 milhão que seriam destinados ao ministro Raimundo Carreiro, que também integra o plenário do TCU.

Ao prestar depoimento aos procuradores da República, Ricardo Pessoa disse que os pagamentos enviados a Raimundo Carreiro estariam relacionados à licitação de uma das unidades da usina de Angra 3.

 

Já os pagamentos a Tiago Cedraz, acrescentou o delator, eram feitos para que o filho do então presidente do TCU repassasse informações privilegiadas e antecipadas sobre investigações e julgamentos no tribunal que envolvessem a UTC.

Além disso, em 2016, Pessoa entregou à Polícia Federal uma tabela que indicava pagamentos que somam R$ 2,2 milhões a Tiago Cedraz.

 

Na delação dos executivos e ex-dirigentes da Odebrecht, o nome de Tiago Cedraz voltou à tona. O ex-executivo da construtora Henrique Pessoa afirmou ao Ministério Público que ficou sabendo que Tiago teria sido contratado, por R$ 1 milhão, para "resolver um problema" que estava parado no TCU.

 

Em novembro do ano passado, a Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro e Tiago Cedraz.

 

Fonte: G1