Brasil tem 'epidemia' de fraturas em idosos, dizem especialistas

02/05/2014

 

O idoso que sofre uma fratura de quadril deve ser operado em 24 horas ou, no máximo, em 48 horas para que tenha mais chances de recuperação. Mas no Brasil ele espera até um mês, o que aumenta as chances de complicações e de morte.

 

É que o afirmam os especialistas reunidos no Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, que acontece em Belém (PA) até sábado. As quedas são as principais causas das fraturas ósseas.

 

Para eles, o processo de envelhecimento vivido pelo Brasil, associado a falhas na assistência e a falta de prevenção de quedas em idosos, faz com que o país enfrente hoje uma verdadeira epidemia das chamadas fraturas de fragilidade, associadas à osteoporose e outras doenças ósseas.

 

As estatísticas mostram que 30% dos idosos vão cair pelo menos uma vez por ano. Em 5% desses casos, haverá uma fratura de fragilidade, mais comum no fêmur, vértebra e punhos.

 

A de fêmur é a que mais preocupa porque o índice de mortalidade associado a ela é grande: 20% em até um ano. "Depois da fratura podem surgir outros problemas, como pneumonia e outras infecções", diz o médico Salo Buksman, do Into (Instituto Nacional de Ortopedia e Traumatologia).

 

A geriatra Maria Alice Toledo, presidente da comissão científica do congresso, lembra que a maioria dos idosos não possui planos de saúde e que os hospitais públicos têm longas filas de espera para esse tipo de cirurgia.

 

"Enquanto espera, o idoso fica na cama e perde musculatura, o que agrava ainda mais o quadro ", diz ela.

 

Segundo dados o Ministério da Saúde, em cinco anos o número de fraturas de fragilidade em idosos aumentou quase 30%. Em 2008, foram 67.664 casos, que pularam para 85.939 em 2013.

 

No Estado de São Paulo, ao menos 30 idosos são internados por dia por fratura de fêmur. Levantamento realizado pela Secretaria de Estado da Saúde mostra que o número de hospitalizações cresceu 70% em dez anos.

 

Segundo David Marsh, da University College de Londres, esse quadro deve piorar muito nos próximos 20 anos. Para a América do Sul, a estimativa é que o número de fraturas crescerá seis vezes.

Ele preside uma rede internacional (Fragility Fracture Network) de especialistas que buscam soluções para que idosos com fraturas recebam tratamento adequado.

 

Marsh explica que o idoso que sofre uma fratura tem um enorme risco de sofrer uma segunda se nada for feito. "Nossos sistemas de uma forma geral não estão preparados para enfrentar essa epidemia", disse ele à Folha.

 

Tratar a osteoporose (com cálcio, vitamina D e outras drogas específicas), ter alimentação saudável e praticar atividades físicas para fortalecer músculos e ossos estão entre as recomendações.

 

Salo Buksman diz que as atividades mais efetivas são as que envolvem força muscular e equilíbrio. "Se não tratar a osteoporose e não prevenir, o idoso vai cair novamente. E isso provoca um custo imenso para a família e para o sistema de saúde."

 

Além da perda natural de massa óssea causada pelo envelhecimento, alguns fatores de risco como má alimentação, sedentarismo e automedicação contribuem para o enfraquecimento dos ossos.

 

Para geriatras, além do consumo de alimentos ricos em cálcio, tomar sol é fundamental para a produção da vitamina D, essencial para fixar o cálcio nos ossos.

 

Fonte: Folha de S.Paulo