Santa Casa de SP aceita auditoria e reabre

24/07/2014

Um dia após ter interrompido os atendimentos de urgência e emergência no pronto-socorro, a Santa Casa de São Paulo fez acordo para receber ajuda financeira do Estado e virar alvo de auditoria e, com isso, retomou os serviços na noite desta quarta (23).

 

A decisão foi anunciada após a crise financeira do maior hospital filantrópico da América Latina ter motivado críticas sobre a gestão da entidade e um bate-boca entre os governos Geraldo Alckmin (PSDB) e Dilma Rousseff (PT).

 

O pronto-socorro ficou fechado por quase 30 horas --e, nesta quarta, houve interrupções também em consultas, exames e cirurgias eletivas acabaram sendo canceladas.

 

A Santa Casa diz que a medida é resultado de uma dívida de R$ 50 milhões com fornecedores, que a deixou sem materiais e medicamentos.

 

A instituição anunciou a retomada do atendimento após a gestão Alckmin decidir liberar R$ 3 milhões de forma emergencial, para pagamento de fornecedores, e se comprometer com a dívida restante, em parcelas.

 

Os governos estadual e federal questionaram a gestão de recursos pela Santa Casa e terão representantes em uma auditoria exigida pelo Estado para fazer repasses.

 

"Estamos cobrando a abertura das contas", afirmou David Uip, secretário estadual da Saúde. "A Santa Casa recebe, por exemplo, para fazer dez cirurgias e produz sete. Onde estão essas três cirurgias? Não estamos suspeitando de nada, porque gerir um hospital é muito difícil. Estamos dizendo que essa auditoria tem tom colaborativo."

 

Após negar inicialmente a oferta de R$ 3 milhões alegando que seria insuficiente, Kalil Rocha Abdalla, provedor da Santa Casa, aceitou a retomada dos serviços "a contragosto". Ele nega má gestão. "Temos certeza da lisura da contabilidade", disse.

 

Pouco antes das 22h, três vans de fornecedores chegaram ao hospital e os portões foram reabertos. Primeiro paciente, Daniel, 14, tinha estreitamento de esôfago e precisava de uma endoscopia.

 

A Santa Casa é gerida com recursos próprios (como doações, verba de hospitais privados que gerencia e aluguel de imóveis) e verbas federais e estaduais, mas não deu detalhes de receitas e despesas.

 

A entidade critica a defasagem da tabela básica do SUS para remunerar procedimentos médicos --e que não é atualizada há dez anos.

 

A Promotoria instaurou inquérito para apurar a interrupção no atendimento.

 

DISPUTA POLÍTICA

A três meses das eleições, a crise na Santa Casa virou alvo de disputa entre os governos Alckmin e Dilma.

 

O governador tucano criticou os valores do SUS e disse haver subfinanciamento.

 

"É necessário investir mais na saúde. Aí o governo mais rico, que é o federal, vai diminuindo a sua participação. Como ele diminui? Não corrigindo a tabela [do SUS]."

 

O ministro da Saúde da gestão Dilma, Arthur Chioro, acusou a gestão Alckmin de tentar "transferir para o colo do governo federal a responsabilidade" sobre a crise.

 

A pasta diz que os recursos às Santas Casas não se limitam à tabela do SUS e questionou uma diferença de R$ 74,7 milhões na verba dada pela União ao hospital por meio do Estado. "Provavelmente não teríamos essa crise se esse dinheiro tivesse sido integralmente utilizado", disse Chioro, à noite. Procurado, o Estado não comentou devido ao horário.

 

Fonte: Folha de S.Paulo