BC faz defesa enfática de patamar de juros
25/07/2014
Diante de especulações do mercado e de pressões políticas de setores do governo, o Banco Central foi explícito ao dizer que não pretende reduzir os juros antes das eleições presidenciais, apesar da desaceleração econômica.
O recado, emitido, segundo assessores presidenciais, "para fora e para dentro do governo", está na ata da reunião de quarta passada do Copom (Comitê de Política Monetária), quando o BC manteve os juros em 11% ao ano.
Apesar de afirmar que a queda na atividade se tornou um fator "desinflacionário", a ata diz que o cenário é de "inflação resistente nos próximos trimestres". O IPCA (índice oficial) acumulado em 12 meses está em 6,52%, acima do limite do governo --de 6,50% em dezembro.
A ata usa uma linguagem mais direta que de costume.
"Mantidas as condições monetárias --isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária--, [a inflação] tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção [meados de 2016]", diz o BC.
A próxima reunião do Copom está marcada para 3 de setembro. Uma semana antes, será divulgado o PIB do segundo trimestre, que pode apontar uma contração.
Nos últimos dias, investidores passaram a apostar que o Copom poderia cortar a taxa em setembro. A especulação se baseava na hipótese de que Dilma pressionaria o BC para cortar os juros antes da eleição, para incentivar a economia. A reunião seguinte do Copom será em outubro, já após o segundo turno.
A aposta vinha sendo reforçada dentro do governo e na cúpula da campanha de Dilma: alguns assessores defendiam corte na Selic para tentar reduzir o mau humor em relação à economia.
O BC afirmou, no entanto, que a demanda de consumidores e empresas continuará "relativamente robusta" e que os reajustes salariais "ainda" são um fator inflacionário. Além disso, segundo o BC, é preciso combater os efeitos da alta do dólar e do reajuste de tarifas, que vão continuar subindo até 2016.
O BC vê a desaceleração do crédito como positiva, pois conteve o endividamento das famílias e o risco dos bancos.
Analistas afirmam que o próprio BC acionou a especulação, ao usar no comunicado divulgado após a reunião em que manteve a taxa a expressão "neste momento".
"Ainda não deu para entender por que eles mantiveram isso no comunicado", disse Tony Volpon, diretor da corretora Nomura Securities.
"Agora, o BC deixou clara a sua estratégia. Um corte da taxa neste ano seria algo puramente eleitoral", diz Raphael Juan, da BBT Asset.
Fonte: Folha de S.Paulo