Sesc SP deixa de renovar carteirinhas de usuários

25/07/2014

Reconhecido pela abrangência de sua atuação nas áreas de cultura e lazer (o que lhe valeu inclusive o epíteto de “Ministério da Cultura Informal”), o Sesc São Paulo iniciou um doloroso processo nos últimos dias: deixou de renovar as carteirinhas de usuários (não comerciários), um benefício que mantinha havia mais de uma década em suas 34 unidades (Capital, Interior e Litoral).

 

Serão 208 mil pessoas que deixarão de ter acesso, por exemplo, à meia-entrada nos shows e peças teatrais. Ao todo, quase 2 milhões de pessoas foram atendidas no ano passado pelo Sesc – 1,6 milhão eram comerciários.

 

O processo tem sido gradativo: conforme o usuário procura renovar sua carteirinha, está sendo informado que isso, desde o início deste mês, não é mais possível. Uma usuária do Sesc Santos, assinando Karin, escreveu para a instituição: “Tentei renovar a minha carteirinha de usuário e a do meu filho de 5 anos neste final de semana e me negaram. Fiquei muito revoltada e indignada, pois ninguém ao menos informou antecipadamente sobre essas decisões vindas do superior do Sesc. Sempre levo o meu menino pra brincar no Sesc Santos e ele sempre adorou pegar emprestado os brinquedos na brinquedoteca, brincar na piscina, e chutar uma bola nas quadras”.

 

O usuário era uma das categorias autorizadas a fazer uso da ampla programação do Serviço Social do Comércio (Sesc), que primordialmente existe para atender à categoria de comerciários – atendendo a decreto lei de 1946. Para fazer jus a todos os benefícios (programação cultural, cursos, aulas, recreação, vivências, palestras, exposições, apresentações esportivas, ginásticas, torneios e campeonatos, entre outros), o usuário só precisava pagar uma anuidade de R$ 62 (pouco mais de R$ 5 por mês, uma adesão atrativa).

 

“O Sesc não pretende mudar seu jeito de atender às pessoas”, disse Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc. “Mas temos de dar prioridade àqueles que, legalmente, são objeto de atuação do Sesc, os comerciários, para aquilo que é mais demandado”. Ele explicou que, pelo prestígio da instituição, muitos serviços, que vão da odontologia às colônias de férias (como a de Bertioga), vinham sendo mais procurados.

 

Miranda explicou que, “por liberalidade”, esses serviços eram oferecidos a todos, mas isso vai ser mudado agora. “As carteirinhas não vão ser mais renovadas, mas as pessoas terão acesso às atividades que promovemos para todo tipo de público”, garantiu Miranda. Segundo o Sesc, como a meia-entrada já era subsidiada pelo Sesc, os usuários continuarão tendo benefícios no uso da instituição.

 

“Estamos, pelo contrário, abrindo mais ainda nossas sedes para o público. Pode dizer para as pessoas que elas vão poder continuar frequentando o Sesc”, disse o dirigente. A mudança vem de uma “necessidade legal de adaptar” as regras. “Quanto à tabela de preços, teremos de ver cada situação individualmente”.

 

Aos usuários que têm reclamado da não renovação de suas carteirinhas, o Sesc tem endereçado um texto básico. “A suspensão das matrículas de usuário não significa a interrupção do atendimento ao público que não se enquadra na categoria comerciário. Todos continuarão sendo bem-vindos às nossas unidades as quais oferecem livre acesso em inúmeros espaços, além de diversas atividades gratuitas. O que se processa neste momento é a definição de uma nova prática de relacionamento com o público não comerciário que quando concluída, indicará os meios para inscrição nos programas e atividades que apresentarem vagas”, informou a Gerência de Relações com o Público do Sesc, em uma carta em resposta a um dos usuários que questionou a suspensão do atendimento.

 

O texto já sinaliza uma mudança importante: somente os programas e atividades que apresentarem vagas poderão ser frequentados no futuro. Nesse momento, apenas os que trabalham ou se aposentaram no comércio de bens, serviços e turismo, com contrato de trabalho registrado na carteira profissional, podem fazer ou renovar a matrícula na categoria Comerciário e usufruir dos benefícios exclusivos. Desempregados há até 12 meses, desde que o último emprego com registro em carteira tenha sido em empresa de comércio de bens, serviços e turismo, também podem fazer a matrícula na categoria Comerciário.

 

Fonte: Estadão