PIB recua e coloca economia do país em recessão técnica

01/09/2014

O Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) teve queda de 0,6% no segundo trimestre de 2014, em relação aos primeiros três meses do ano. O valor ficou em R$ 1,27 trilhão. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou hoje o indicador, que havia caído 0,2% no trimestre anterior. Já em 12 meses, com o dado do segundo trimestre, há um crescimento acumulado de 1,4%.

 

O melhor desempenho neste trimestre foi registrado pelo setor de agropecuária, que cresceu 0,2% em relação aos últimos três meses. A pós a revisão do crescimento do primeiro trimestre do ano, o fraco desempenho da economia brasileira caracteriza um quadro chamado pelos economistas de recessão técnica, processo que o país enfrentou no auge da crise financeira internacional entre 2008 e 2009. A economia, naquele ano, registrou recuo de 4,2% e de 1,7% respectivamente, na mesma base de comparação.

 

“Nós conseguimos observar trimestres consecutivos de queda em setores essenciais para o crescimento da economia do país. Sendo assim, podemos afirmar que existe recessão técnica na economia brasileira. Nas contas nacionais como um todo, estamos observando esse movimento”, afirmou o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, para quem a indústria de transformação, o setor de construção e o comércio puxaram para baixo o indicador.

 

Em relação ao primeiro trimestre, o setor que mais registrou recuo foi o da indústria, com queda de 1,5%. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a queda foi ainda maior, de 3,4%, a maior queda desde o primeiro trimestre de 2009, quando caiu 11,6%. Já o setor de construção civil teve queda, na margem, de 2,9%. De acordo com o economista do Iedi, a recessão está focada especialmente nos dois setores.

 

“Esses dois setores estão nitidamente em recessão. A construção, por sua vez, está vivendo o final de um longo ciclo de expansão. Já a indústria de transformação apresenta um problema estrutural de longo prazo com altos e baixos, mas, agora, está claro que está em um momento difícil, com produção em baixa e desemprego”, avaliou o economista do Iedi.

 

Pelo lado da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) caiu 5,3% no 2º trimestre, frente ao trimestre anterior. Comparado ao mesmo período de 2013, o setor teve retração de 11,2%. Nesse item são incluídos os investimentos em máquinas e equipamentos, investimento em infraestrutura e aumento no estoque de bens duráveis, usados para o aumento da produção. A queda nos investimentos também caiu pela quarta vez consecutiva e mostra desconfiança dos empresários brasileiros com o futuro da economia do país.

 

“A economia está com claro problema de competitividade. O salário cresce mais que os preços e isso deixa o empresariado com certeza de que não vai lucrar e os investimentos caem”, explica o economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo.

 

A crise na Argentina também afetou diretamente o desempenho da economia brasileira, como ressaltam os economistas. Grande parceiro do Brasil nas importações, o país vizinho é um dos grandes compradores de bebidas, alimentos e automóveis. Esse último, um dos motivos da queda na produção do setor automobilístico brasileiro.

 

“Houve queda nas exportações de automóveis, mas esse não é o principal problema do setor. Houve muito incentivo para aquecer a venda de carros nos últimos anos com a desoneração e isso inflou o setor que, agora, está com produção em baixa. Além disso, o consumidor está endividado e também não consegue crédito para comprar”, diz Camargo.

 

Fonte: Brasil Econômico