Dependência de chocolate é psicológica

28/11/2014

Feniletilamina. É esse nome complicado que faz com que uma pessoa abra um bombom atrás do outro e, quando é impedido de comer chocolate até espanta os amigos por causa do mau humor. Essa substância, presente no cacau, é um precursor da serotonina, que causa bem-estar, excitação e euforia. Para quem acostumou com ela, é um incômodo ficar sem chocolate.

 

E é apenas um incômodo, já que o vício em cacau não é como aquele em drogas ou álcool. Não há abstinência química, apenas psicológica. Mas, se isso está prejudicando quem é chocólatra, "a pessoa pode fazer terapia", indica o neurologista Antônio Montanaro, do Hospital Beneficência Portuguesa.

 

Logo, a notícia que o cacau pode acabar no mundo até 2020 não deve ser tão preocupante. Afinal, quem não tiver mais acesso ao doce, pode passar por sessões de terapia e acabar com a compulsão. Já se a compulsão for descontrolada, podem haver outras razões, como compulsão por outros alimentos também.

 

O cacau está em risco por que os maiores produtores do mundo, na África, estão deixando de plantar o fruto, por causa da seca. Além disso, o consumo de cacau no mundo aumentou muito, ou seja, a demanda, pouco a pouco, está caminhando para ser maior que a oferta. 

 

Quando a pessoa está em um quadro mais depressivo ou na TPM, onde o nível de serotonina cai, o chocolate causa a sensação de bem estar, pois é um estímulo de produção de serotonina, explica Montadaro. "Um estudo da Universidade de San Diego que descobriu que no chocolate há um substância chamada andamina, que tem mais ou menos os mesmos efeitos que a maconha". Mas, para obter os mesmos efeitos, seria necessário comer uma tonelada de chocolate, pondera o médico. Já a cafeína e meletina presentes no doce são excitantes. "Não chega a ser uma dependência, mas sim algo psicológico", conta.

 

Quem tem enxaqueca pode se prejudicar com o consumo de cacau, já que ela pode desencadear as crises. Por outro lado, quem come chocolate diariamente pode sentir dores de cabeça se parar abruptamente, e isso acontece pela falta da cafeína.

 

A sensação de saciedade e satisfação causada pelo chocolate atinge muitos pelo mundo afora. A relações públicas Bruna Leone, de 23 anos, é uma delas. "Não vivo sem, como todo dia depois do almoço, ao longo da tarde, no fim da tarde e depois da janta", conta. E não faz distinção de tipos de chocolate. "O que tiver, desde de biscoito até barra de chocolate", explica. 

 

Ela conta que não lembra quando começou a comer chocolate. "Sempre fui assim". Além disso, nunca pensou em reduzir o consumo do chocolate, já que até agora não tem queixas por causa do consumo excessivo. E a família não implica: "moro com a minha mãe e irmã e elas são iguais", brinca.

 

Flávia Felix é outra que não vive sem o doce. Ela, que tem alergia ao chocolate, mesmo assim não deixa de comer diariamente. "Quando como fico com manchas vermelhas na pele e sensação de queimação, mas que melhoram em cerca de 15 minutos, então eu simplesmente ignoro", diverte-se. O componente do chocolate que causa alergia em Flávia ainda não foi identificado.

 

Quando fica sem o cacau, Flávia relata mau humor e ansiedade. "Já sou uma pessoa ansiosa, e sem chocolate fico muito pior", conta. A sensação psicológica de alívio da ansiedade acontece na hora do consumo, diz ela. 

 

Na adolescência, Flávia comia menos chocolate, pois a mãe impedia o consumo excessivo. Mas, aos 17 anos quando começou a trabalhar, "passei a comprar meus próprios chocolates, então ficou rotineiro", conta ela, que também oferece às vezes o doce para seu sobrinho de dois anos. "Ele já é claramente viciado em chocolate, pede o dia inteiro e fica eufórico quando damos", diz Flávia, que conta que entende a necessidade do pequeno.

 

Natália Souza é chocólatra também e come uma barra de chocolate por dia. Preocupada com espinhas, sua dermatologista explicou que não há relação com entre o cacau e as temidas inflamações - e ela continuou comendo sem culpa. Já Juliana Santos não ficava sem o doce, mas decidiu maneirar na quantidade depois que sua avó estava mal com diabetes. "Tem casos graves de diabetes na família, e eu sou propensa a ter. Nessa época decidi dar uma maneirada", conta.

 

E conseguiu. Uma barra por dia foi transformada em um pedacinho só, às vezes dia sim e dia não. "Para se ter ideia, eu já cheguei a deixar de fazer uma das refeições para poder comer chocolate, em uma das minhas dietas", diz. Hoje, o vício melhorou e ela fica saciada com um pedacinho.

 

O neurologista da Beneficência Portuguesa explica que a preocupação dele com o cacau são as calorias, que podem levar ao aumento do peso. Logo, a moderação seria o melhor conselho. Quem deseja parar de consumir chocolate em excesso pode procurar um psicólogo e passar por uma terapia. 

 

Fonte: IG