Varejo espera um 'Natalzinho' este ano

18/12/2014

Depois do "pibinho", o "Natalzinho". Essa é a perspectiva de vendas para este ano da principal data do comércio varejista. Projeções de entidades e empresas ligadas ao comércio indicam um Natal com baixo crescimento de vendas. A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) espera um aumento de 2% no volume de vendas em relação a 2013. A Boa Vista SCPC, empresa especializada em informações de crédito, projeta um avanço menor, de 1,5%. No Natal de 2013, o crescimento foi 2,4% em relação a 2012.

 

O pior desempenho do Natal é apenas uma continuidade do que aconteceu este ano. De janeiro até a primeira quinzena deste mês, o movimento do comércio varejista da cidade de São Paulo, por exemplo, cresceu 2% em relação ao mesmo período de 2013. "É um movimento fraco que já era esperado", afirma o economista da ACSP, Emilio Alfieri.

 

Juros altos, crédito em desaceleração e queda na confiança do consumidor afetaram o consumo das famílias neste ano, que deve ter o pior desempenho desde 2003. Para 2015, o economista-chefe da ACSP, Marcel Solimeo, acrescenta outros fatores que, na sua avaliação, devem atrapalhar o consumo. "No ano que vem, deve ocorrer restrição no consumo por causa da renda e da massa salarial. Isso porque os reajustes salariais devem desacelerar em termos reais", prevê.

 

Além das restrições no mercado de trabalho, ele lembra que as pressões inflacionárias vão aumentar no ano que vem. Na sua avaliação, os preços dos produtos devem sofrer o impacto da disparada recente do dólar. Há também pressões advindas dos reajustes das tarifas públicas que foram adiadas durante muito tempo, além da volta de impostos, como a Cide, que está sendo cogitada pelo governo.

 

O crédito é outro fator que deve afetar negativamente as compras. Em outubro, por exemplo, o número de novos consumidores, identificados pelo Cadastro de Pessoa Físicas (CPF), que buscaram crédito pela primeira vez foi quase 20% menor em relação ao mesmo mês de 2013, segundo dados da Boa Vista SCPC. "Também há menos gente tomando crédito entre os que já compram a prazo", afirma o economista da Boa Vista SCPC, Flávio Calife. Entre janeiro e outubro deste ano, houve uma retração de 5% na procura dos consumidores por crédito em comparação com o mesmo período de 2013.

 

Cautela. O recuo na procura por crédito reflete, segundo Solimeo, a cautela do consumidor e o maior cuidado das instituições financeiras para emprestar. A desconfiança existe de ambos os lados e o impacto imediato desse freio de arrumação no crédito já apareceu nos resultados da inadimplência.

 

De janeiro até a primeira quinzena deste mês, o número de dívidas em atraso cresceu 2,3% em relação ao mesmo período de 2013 e o volume de dívidas renegociadas aumentou 2,9%. Isso significa que a inadimplência ficou estabilizada.

 

Quando se avalia a inadimplência líquida, que é o saldo entre dívidas em atraso e as renegociadas do mês em relação às vendas de três meses anteriores, o resultado também estável. Em novembro, a inadimplência líquida correspondia a 4,7% do faturamento e deve fechar o ano nesse patamar, o segundo menor resultado da série iniciada em 2009.

 

Apesar do resultado favorável do calote, os economistas dizem que não é possível prever que esse patamar seja mantido em 2015 e que as vendas tenham um aquecimento porque até agora não se sabe ao certo qual será a intensidade do ajuste econômico. "Se o ajuste for gradual e o PIB crescer entre 0,5% e 1%, o varejo pode ficar entre 1% e 2% acima do PIB", diz Solimeo.

 

Fonte: Estadão