Honda tem fila de espera por carros e paga hora extra para produzir mais

21/05/2015

Uma das poucas exceções em meio ao cenário de crise do setor automobilístico, a Honda opera diariamente sua fábrica em Sumaré, no interior de São Paulo, com horas extras para dar conta da demanda. Seu recente lançamento, o utilitário-esportivo HR-V, tem fila de espera de 100 dias e as vendas da marca aumentaram 15% no primeiro quadrimestre, num mercado que caiu 18,4%.

 

Mesmo com o cenário favorável, a fabricante japonesa está cautelosa. A segunda fábrica do grupo no País, antes prevista para ser inaugurada no fim do ano, só deve entrar em operação em Itirapina (SP) em 2016, ainda sem data definida.

 

“Estamos revendo (o calendário) por causa da conjuntura. Vai depender do mercado, da situação econômica”, afirma o vice-presidente da Honda do Brasil, Carlos Eigi.

A nova fábrica vai dobrar a capacidade produtiva da Honda, atualmente de 120 mil veículos por ano e ajudará a desafogar a unidade de Sumaré, que opera no limite. Os operários fazem 1h40 de trabalho extra diariamente em cada um dos dois turnos. “É caro e exige muito dos trabalhadores”, afirma Eigi.

 

O plano da Honda é inicialmente concentrar na nova fábrica a produção do Fit, abrindo assim espaço para os modelos City, Civic e HR-V. Lançado em março, o utilitário-esportivo (SUV) compacto representa 40% da produção diária.

 

Segundo Eigi, há fila de espera de 100 dias para o modelo top de linha (que custa R$ 88,7 mil) e de um mês para o mais barato (R$ 70 mil). Introduzir um terceiro turno em Sumaré não é viável porque não há disponibilidade de componentes importados para o SUV, informa o executivo.

 

A fábrica de Sumaré emprega atualmente 3,2 mil pessoas - 100 delas contratadas para a unidade de Itirapina e, até o fim do ano, terá mais 300 pessoas. Já a filial terá 2,2 mil funcionários em dois turnos.

 

Expansão. Só com horas extras, a Honda consegue ampliar a produção de 540 para 657 carros por dia. A empresa investiu R$ 250 milhões nos últimos meses para a produção do HR-V e em novos equipamentos, como robôs para a linha de pintura de peças plásticas, para reforçar a produção de componentes que serão enviados para Itirapina, cujo projeto exigiu investimentos de R$ 1 bilhão. As duas fábricas farão as mesmas linhas de produtos.

 

Eigi espera um crescimento de 15% na produção neste ano, ante as 127 mil unidades de 2014. As vendas devem crescer na mesma proporção. Nos primeiros quatro meses do ano essa meta foi atingida, com a comercialização de 46,5 mil veículos. Em todo o ano passado a marca vendeu 130,9 mil unidades, incluindo importados.

 

Segundo o executivo, a renovação da linha de produtos, a introdução dos novos Fit e City, a nova motorização do Civic e a chegada do HR-V são os principais motivos do desempenho positivo da marca.

 

“Também sentimos dificuldades no mercado, mas nosso diferencial são os novos modelos”, afirma Paulo Takeushi, diretor institucional da Honda.

 

Sem crise. A Honda não é a única montadora a escapar da crise. A também japonesa Toyota opera em dois turnos, com duas horas extras por dia nas fábricas de Indaiatuba e Sorocaba, ambas no interior de São Paulo.

 

A unidade de Indaiatuba, onde é produzido o sedã Corolla, emprega 2 mil trabalhadores e a de Sorocaba, que faz o compacto Etios, 1,6 mil.

 

De janeiro a abril, a Toyota vendeu 56,7 mil automóveis e comerciais leves (incluindo importados), 7% a mais que em igual período do ano passado. O mercado total desses segmentos vendeu 861,7 mil unidades, 18,4% menos que em 2014.

 

Outra marca asiática, a coreana Hyundai, opera em três turnos e, assim como Honda e Toyota, não adotou medidas de corte de produção, como férias coletivas e lay-off (suspensão de contratos de trabalho), a exemplo do que faz a maioria das fabricantes, especialmente as de grande porte.

 

A empresa dará férias coletivas aos funcionários de 2 a 12 de julho, mas dia que se tratar de parada programada para manutenções. A Hyundai espera repetir neste ano, na fábrica de Piracicaba (SP), a produção de 2014, de 180 mil unidades dos modelos da família HB20.

 

No primeiro quadrimestre, a marca vendeu 50,4 mil unidades da linha HB20, com queda de 3,7% em relação ao mesmo intervalo do ano passado. Incluindo modelos importados e produzidos na fábrica da Caoa/Hyundai em Anápolis (GO), as vendas somam 65,4 mil unidades, queda de 6,9%. 

 

Fonte: Estadão