Postes em local onde folião morreu no Centro de SP não dão choque após acidente, aponta teste

08/02/2018


O G1 voltou nesta quarta-feira (7) ao local onde onde o folião Lucas da Silva, de 22 anos, morreu eletrocutado após encostar em um poste na esquina das ruas Matias Aires e da Consolação, no Centro de São Paulo, no final da tarde deste domingo (4). O poste em que estão duas câmeras de segurança e o poste ao lado, interligado ao primeiro por uma fiação suspensa, foram testados por um eletricista profissional levado pelo G1 com um alicate amperímetro e ambos estavam sem tensão elétrica.

 

A causa da morte do jovem está sendo investigada pela Polícia Civil. Somente um laudo necroscópico da Polícia Técnico-Científica irá apontar o que matou o estudante. A GWA Systems, empresa responsável pela instalação das câmeras para monitorar o pré-carnaval de rua em São Paulo, negou que seus equipamentos tenham energizado o poste.

 

Durante o teste, o G1 acompanhou o eletricista Cleiton Soares, que usou o amperímetro. Ele verificou que não havia tensão elétrica no poste onde estão as duas câmeras e no outro que está interlagado por uma fiação elétrica. Ele testou se a estrutura estava com corrente elétrica e o resultado foi negativo. Por esta razão, o profissional concluiu que os dois postes estavam desligados quando o G1 realizou o teste.

 

O G1 também testou 15 postes entre as ruas Professor Artur Ramos e Tucumã, que cruzam a Avenida Faria Lima, na Zona Oeste de São Paulo e verificou que nenhum deles estava com tensão elétrica.

 

Em 2015, o G1 esteve no local e verificou que oito postes no mesmo quarteirão apresentaram tensão elétrica e em intensidades variadas (veja o vídeo abaixo).

 

Naquela ocasião, os postes de iluminação de LED, instalados em dezembro de 2012 como parte do plano de renovação de iluminação da Prefeitura, em condições normais, não deveriam ter tensão elétrica na sua carcaça, que precisa ser eletricamente aterrada.

 

O leitor Claudemar Nascimento Leandro foi quem denunciou o problema ao VC no G1. Ele trabalha com manutenção de radares e estava na Faria Lima quando percebeu a tensão dos postes.

 

Durante o teste feito pelo G1 nesta quarta-feira, o amperímetro foi encostado nos postes e também em placas metálicas instaladas na calçada e próximas aos 15 postes testados.

 

O G1 circulou pelo Largo da Batata e testou dois postes onde estão instaladas duas câmeras de segurança. Um deles era de concreto, mas tinha dois tubos metálicos em sua base. Não foi verificada tensão elétrica na estrutura. No outro poste, todo feito de metal, o teste também foi feito e novamente nenhum sinal de tensão elétrica foi verificado.

 

Morte do folião

A GWA foi contratada pela Dream Factory para instalar 200 câmeras provisórias de monitoramento para o carnaval na cidade. A Dream, por sua vez, havia sido escolhida pela Prefeitura de São Paulo para implantar a infraestrutura do carnaval de rua.

 

CET e Ilume chegaram a registrar boletim de ocorrência no 4º Distrito Policial (DP), Consolação, alegando que houve furto de energia do poste. A Polícia Civil investiga as eventuais responsabilidades pela morte de Lucas. A investigação quer saber se alguma "gambiarra" energizou as câmeras instaladas no poste, eletrocutando o estudante.

 

O Tribunal de Contas do Município (TCM) informou nesta quarta-feira que deu 48 horas para Prefeitura explicar como fez o contrato com a empresa responsável pelas câmeras no carnaval. O Ministério Público (MP) acompanha o caso da morte de Lucas.

 

Versões

Cada órgão envolvido na operação tem uma versão de como ocorreu a instalação das câmeras. Veja abaixo as diferentes versões:

 

O que diz a GWA

O proprietário da GWA, Arthur José Malvar de Azevedo, diz que teve autorização da Dream Factory para instalar as câmeras e "puxar" energia dos postes para alimentá-las. E que teve orientação de representantes da Polícia Militar (PM) de como deveria posicionar os equipamentos.

 

"A minha estranheza é que fui acusado pela CET e Ilume de furto de eletricidade. Mas a CET trabalhou dentro de uma sala de monitoramento da empresa em conjunto com outros órgãos públicos", comentou o dono da GWA. "Como me acusam de ter furtado se estavam usando o sistema para trabalhar?", questiona Azevedo.

 

"A GWA informa que sempre seguiu todas as normas técnicas de segurança que regulamenta o setor que atua", disse o dono da empresa. "As nossas câmeras na Consolação estavam instaladas corretamente."

 

Ele afirmou que contratou uma perícia particular, que emitiu um parecer técnico para demonstrar que a GWA não tem responsabilidade com o que aconteceu com o estudante morto. "Cada câmera só usa 12 volts."

 

Segundo Azevedo, 106 câmeras foram instaladas, restando as demais para serem colocadas. Mas o dono alegou que recebeu documento da CET para retirar todos os equipamentos.

 

O que diz a Dream Factory

A empresa disse que "seguiu estritamente todas as orientações fornecidas por representantes da Prefeitura para que o fornecedor contratado pudesse instalar as câmeras de monitoramento nos locais por ela indicados, cujas imagens foram amplamente utilizadas tanto pela Prefeitura quanto demais órgãos durante toda a operação do carnaval”.

 

A Dream Factory acrescentou que está colaborando com as investigações.

 

O que diz a Prefeitura

Por conta da repercussão do caso, o prefeito João Doria (PSDB) se pronunciou nesta terça-feira, dizendo que a instalação das câmeras não é um "instrumento oficial" da Prefeitura e foi instalado "indevidamente". Segundo ele, a CET não autorizou a colocação dos equipamentos, e a Ilume (departamento de iluminação pública da prefeitura) não permitiu retirar energia para os aparelhos.

 

“A instalação dessa câmera não estava autorizada, portanto, ela não representava um instrumento oficial da Prefeitura de São Paulo. Ela foi instalada indevidamente e em condições técnicas inadequadas, mas o laudo final nós temos que aguardar, será emitido pela polícia técnica da Polícia Civil", disse Doria.

 

Em comunicados divulgados nesta semana, a Secretaria de Prefeituras Regionais informou que solicitou que a Eletropaulo vistoriasse os locais onde foram instaladas as câmeras.

 

Fonte: G1