Analistas esperam que a Bolsa renda quase 4 vezes mais que a renda fixa em 2018

19/03/2018

O investidor que tiver estômago para aguentar a volatilidade no mercado acionário brasileiro daqui até o fim do ano, suportando crises internacionais e a turbulência das eleições, poderá ganhar quase cinco vezes o que ganharia na renda fixa, como títulos públicos atrelados à Selic.

 

A perspectiva é de analistas ouvidos pela Folha, que consideram um Ibovespa, índice das ações mais negociadas da Bolsa, encerrando o ano em 110 mil pontos —na última sexta (16), fechou a 84.886 pontos.

 

Caso essa valorização se materialize, representaria um ganho de quase 30% em relação ao patamar atual. Neste ano, o Ibovespa acumulava alta de 11,1% até sexta.

 

Já na renda fixa, a expectativa é que o juro básico da economia encerre 2018 a 6,5%, após o corte previsto da Selic na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) que termina nesta quarta-feira (21).

 

LUCRO DAS EMPRESAS

Os 110 mil pontos estão no panorama mais otimista dos analistas da Guide Investimentos, que contempla um crescimento do lucro das empresas da ordem de 35%, o que alavancaria o valor das ações das companhias e ajudaria a impulsionar a Bolsa.

 

No cenário-base —ou seja, não tão otimista—, a Guide considera o lucro crescendo 20% no ano, deixando o Ibovespa em torno de 97 mil pontos no final do ano.

 

Ronaldo Patah, estrategista de investimentos do UBS Wealth Management, vê o lucro das empresas crescendo no mesmo patamar, mas espera que a Bolsa termine o ano na casa de 92 mil pontos.

 

Só que essa ascensão pode ter doses de emoção, com oscilações ao longo do ano.

 

“Pesquisas eleitorais irão mexer com o mercado, o banco central americano deve subir juros três ou quatro vezes em 2018”, diz Ignacio Crespo, economista da Guide.

 

Mais cautelosa com as eleições deste ano e com possíveis alterações de humor do presidente dos EUA, Donald Trump, a Eleven Financial vê o Ibovespa entre 87 mil e 90 mil pontos no final do ano.

oscilações

 

O mercado espera que o Fed, o banco central dos EUA,  faça a primeira alta dos juros, hoje na faixa de 1,25% a 1,5% ao ano, nesta quarta (21). Bolsas de mercados emergentes, como o Brasil, podem ficar voláteis com migração de investimentos para os EUA.

 

Essas oscilações, porém, já estão previstas e não alteram as perspectivas, apesar do risco de guerra comercial entre Estados Unidos e China ou da volta da inflação nos EUA.

 

Patah, do UBS, afirma que a avaliação do mercado é que esses riscos não irão se consolidar, fazendo o fluxo de investimentos se manter para os  países emergentes.

 

Além disso, para o estrangeiro, a Bolsa brasileira está “uma verdadeira pechincha”, nas palavras de Raphael Figueredo, sócio-analista da Eleven, que acha possível o mercado acionário entrar em uma zona mais forte de retomada se houver uma boa atuação do investidor de fora.

 

Já a BlackRock estima que, em dólares,  a Bolsa está 45% abaixo do pico, com espaço para crescer mais.

Barata, a Bolsa deve atrair capital externo, ajudando a impulsionar as ações.

 

Armando Senra, diretor da BlackRock para América Latina e Ibéria, diz que a gestora está otimista com o país. “O Brasil tem um grande mercado de capitais, o que atrai investidores”, afirma.

 

CONSUMO INTERNO

O país é um dos favoritos porque, entre outros pontos,  tem inflação controlada (no acumulado dos últimos 12 meses o índice está abaixo de 3%, inferior ao piso da meta) e os juros, em 6,75%, baixos.

 

Inflação baixa e juros baratos estimulam os gastos das famílias, que ficaram represados na crise. O desemprego também diminuiu — hoje está em 12,2%— , reforçando o poder de compra da população e ajudando a criar uma certa proteção contra possíveis oscilações externas.

 

O cenário põe o país na mira da Franklin Templeton, gestora que, diz Michael Hasenstab, seu vice-presidente executivo e diretor global de investimentos em renda fixa, foca em emergentes “com resiliência a choques externos.”

 

“A taxa de juros relativamente menor e um ambiente externo positivo devem dar apoio ao crescimento do Brasil. As famílias estão com mais capacidade de consumir após anos de desalavancagem”, afirma Hasenstab.

 

Senra, da Franklin Templeton, porém, pondera que as eleições trazem um grau de incerteza e que seria importante implementar reformas como a da Previdência. “Mas queremos crescer nossa exposição ao Brasil, é um mercado muito grande. Temos que ter posições aqui”.

 

Já Raymundo Magliano Neto, presidente da Magliano Invest, avalia que a Bolsa possa chegar aos 220 mil pontos em 2022, caso um candidato pró-mercado vença as eleições presidenciais deste ano.

 

“Na minha visão, a recuperação da Bolsa, que começou em 2016, deve repetir o cenário de crescimento que acompanhamos de 2002 a 2008”, diz o executivo.

 

Fonte: Folha de S.Paulo