Crescimento da economia perde fôlego em fevereiro, aponta FGV

19/04/2018

A economia brasileira cresceu no trimestre encerrado em fevereiro, mas em ritmo mais fraco que no mês anterior, dando sinais de que a recuperação pode estar perdendo fôlego, aponta o monitor do PIB (Produto Interno Bruto) da FGV (Fundação Getulio Vargas).

 

O indicador avançou 0,6% nos três meses até fevereiro, na comparação com o trimestre anterior (setembro a novembro). Em relação ao mesmo período de 2017, a alta foi de 1,7%, desacelerando o crescimento de 2,1% do trimestre encerrado em janeiro. 

 

A taxa mensal de fevereiro registrou ainda queda de 0,3% ante janeiro. Em valores correntes, o PIB alcançou aproximadamente R$ 1,1 trilhão no acumulado de 2018.

 

"Fevereiro apresentou um dado que pode significar que a economia esteja perdendo o fôlego na recuperação que vinha acontecendo. Não é uma questão de susto, as taxas trimestrais continuam subindo, mas estão crescendo menos que no trimestre anterior", afirma Claudio Considera, coordenador do monitor. 

 

O consumo das famílias cresceu 2,5% no trimestre até fevereiro, ante mesmo período de 2017. Mas, apesar de todos os componentes do indicador terem apresentado taxas positivas nessa base de comparação, houve desaceleração do crescimento em relação à taxa de janeiro (2,7%). 

 

Já o setor de serviços ficou estável, repetindo em fevereiro a alta trimestral de 1,7% registrada nos três meses até janeiro.

 

Os dois setores são impactados pela alta taxa de desemprego, que no trimestre de dezembro de 2017 a fevereiro deste ano voltou a crescer, atingindo 13,1 milhões de brasileiros.

 

"O desemprego ainda pesa, a taxa não está cedendo, pelo contrário, vimos uma certa mudança de rumo. As famílias estariam comprando mais e demandando mais serviço se houvesse emprego", diz Considera.

 

O pé freio que as famílias impuseram às compras não inibiu os investimentos de empresas. 

 

A formação bruta de capital fixo, isto é, os investimentos, continua em trajetória ascendente, com crescimento de 4,4% no trimestre encerrado em fevereiro, na comparação anual.

 

Mais uma vez, o bom desempenho se deu, principalmente, em máquinas e equipamentos, que cresceram 17,2%. A construção continua em retração (-1,8%).

 

"Quem compra máquina e equipamento, majoritariamente, são as empresas. De alguma forma, os empresários estão investindo, talvez se preparando para uma nova fase de expansão ou substituindo equipamentos", diz Considera. Ele pondera que "haveria mais investimento se houvesse uma confiança maios de que a economia vai continuar se ajustando e, nesse sentido, seria importante as reformas seguirem em frente."

 

A taxa de investimento (divisão da formação bruta de capital fixo pelo PIB), a preços constantes, foi de 17,8% em fevereiro de 2018.

 

Outros destaques positivos no trimestre até fevereiro foram as atividades de transformação e o comércio, que subiram, respectivamente, 5,4% e 4,7% ante 2017.

 

A  transformação, na verdade, segurou o setor, porque todos os demais segmentos industriais apresentaram retração no trimestre, mas a indústria em si ainda conseguiu crescer 1,8%.

 

Em contrapartida, a atividade agropecuária caiu 1,7%, após treze meses consecutivos de crescimento.

 

"Não dá para dizer, a partir de fevereiro, que a economia começou a voltar para a recessão. Não é esse o caso. A economia vai crescer neste ano, mas pode não ser o tanto que estava se esperando, entre 2,8% e até 3%", diz Considera.

 

O IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) teve uma pequena expansão em fevereiro, de 0,09%. 

 

Analistas vêm revisando para baixo as expectativas para o PIB deste ano.

 

Segundo o último boletim Focus, do BC, a projeção média é de um crescimento de 2,76%. Há quatro semanas, a expectativa era de uma alta de 2,83%.​

 

BALANÇA

A exportação cresceu 5,5% no trimestre móvel até fevereiro, na comparação com 2017. O destaque continua sendo dos produtos agropecuários, cujas exportações subiram 39,1%, seguidos por bens de capital (37,8%).

 

A importação subiu 2,8%, mas produtos agropecuários recuaram 16,4%. De destaque positivo, a importação de serviços cresceu 8,1%.

 

Fonte: Folha de S.Paulo