Radiohead: mesmo sem lotar estádio, banda faz show intenso em São Paulo

23/04/2018


No palco, foi tudo perfeito. O Radiohead voltou a São Paulo após nove anos com outro grande show neste domingo (22), no Allianz Parque. Thom Yorke estava soltinho e a banda passeou com precisão por suas fases e climas diversos.

 

A plateia do evento é que foi mal equalizada. A pista VIP, cujo ingresso custava R$ 700, tinha grandes espaços vazios. Atrás, a pista comum, por R$ 360, estava cheia, com gente penando para enxergar o palco baixo. A arquibancada também tinha buracos vazios.

 

Segundo a produção, foram 30 mil presentes. O Allianz Parque comporta cerca de 45 mil pessoas em shows.

 

A ironia é que a dose extra de ganância e a separação exagerada de pessoas dariam um ótima música de Thom Yorke, irritado e triste com essa situação de distopia capitalista. Mas voltemos ao palco.

 

O evento foi o Soundheart Festival, que também teve o DJ Flying Lotus, o projeto Junun, do guitarrista Johnny Greenwood com o músico israelense Shye Ben Tzur, e a banda brasileira Aldo The Band. Na prática, eles fizeram uma abertura estendida para o show do Radiohead.

 

O show já começa com a parte mais legal da cenografia, que imita um céu estrelado em "Daydreaming", do disco mais recente, "A moon shaped pool" (2016). Vai nessa marcha lenta e bonita, mas Thom Yorke mostrar a que veio só depois.

 

Na também nova "Ful stop" ele arrisca uma dancinha e em "15 step", do "In rainbows" (2007), ele já tira o casaco. A coisa vai ficando tão séria que em "Myxomatosis", do "Hail to the Thief" (2003), ele parece um rapper, no vocal bravo e nos gestos.

 

Daí, o show deslancha para tipos diferentes de catarses, seja na velha chuva de distorção de "My iron lung", do "The bends" (1995), seja na melodia crescente (que sempre cresce mesmo ao vivo) em "Weird fishes / Arpeggi", do "In Rainbows".

 

A banda também está mais solta. Eles tocam os arranjos intrincados de estúdio com detalhismo e algumas criações de lambuja. "Idioteque" é uma que muda bastante, com sons de bateria alterados e Thom Yorke pulando numa rave particular.

 

Os músicos mostram a mesma energia - exceto pelo discreto Colin Greenwood, quase escondido no baixo ao fundo. Mas em relação a 2009, a grande diferença é um baterista extra, Clive Deamer, que deixa o som ainda mais potente.

 

A banda sempre varia o setlist. São Paulo ganhou, em relação ao Rio dois dias antes, duas músicas antigas que mostraram bem como a voz de Thom Yorke continua nos trinques: "Exit music (for a film)" e "Fake plastic trees". Outro acréscimo, um dos pontos altos da noite, foi "2+2=5".

 

Mas no fim os paulistas saíram perdendo, com uma música a menos no bis do que no Rio. O show acabou com cerca de duas horas e 15 minutos e sem "Karma Police", que fechou lá. Quando as luzes se acenderam rolou uma decepção, mas não dá para reclamar de um show desses.

 

 

Veja o setlist:

Daydreaming

Ful Stop

15 Step

Myxomatosis

You and Whose Army?

All I Need

Pyramid Song

Everything in Its Right Place

Let Down

Bloom

The Numbers

My Iron Lung

The Gloaming

No Surprises

Weird Fishes/Arpeggi

2 + 2 = 5

Idioteque

Exit Music (for a Film)

Nude

Identikit

There There

Lotus Flower

Bodysnatchers

Present Tense

Paranoid Android

Fake Plastic Trees

 

Gonte: G1