Sem fibra ótica, internet no campo avança via rádio

24/04/2018


Os acessos de banda larga fixa via rádio no Brasil cresceram 58% de 2015 a 2018, principalmente em áreas rurais e às margens da infraestrutura de fibra óptica, que dobrou no mesmo período.

 

A conclusão é de um levantamento da Folha com base em dados da Anatel. Os estados em que a tecnologia mais aumentou em três anos foram Tocantins (337%), Amazonas (268%) e Roraima (258%).

 

Chamada de "Spread Spectrum", banda larga via rádio ou modulação digital, essa tecnologia é comum em regiões onde a distância, o relevo ou o desinteresse comercial impedem a chegada dos cabos.

 

Se há um morro no meio do caminho, uma antena instalada por um provedor pode funcionar como espelho entre outros dois pontos de conexão.

 

A forma de conexão é utilizada para conectar casas e celulares, mesmo onde não há sinal para chamada de voz.

 

"A inclusão digital hoje chega de duas formas, rádio ou fibra. No espectro livre de rádio, que não depende de licença, as frequências são poluídas, estão cheias de provedores regionais", diz Cristiane Sanches, diretora jurídica da Abrint, entidade que representa pequenas empresas.

 

Sanches também é diretora da empresa Netserv, de Itu (SP). Cerca de 40% de seus clientes são de internet via rádio.

 

"Se a 60 km de São Paulo existe essa demanda, imagine em regiões em que o poste é de madeira, ou seja, em que é impossível levar fibra."

 

O fato de as conexões por rádio serem menos estáveis se explica pela fragilidade das centrais de energia, segundo Sanches. "Quando chove, cai a energia e para a internet. Ou então a antena entorta, sai do ângulo e para de funcionar."

 

A princípio, porém, o sinal de rádio pode ser quase tão bom quanto um acesso de banda larga de fibra, especialmente perto das antenas.

 

É por isso que, enquanto as conexões de banda larga fixa convencional a cabo (xDSL) vêm caindo, o "Spread Spectrum" ainda cresce no país.

 

A fibra superou o rádio no número de acessos no país em janeiro de 2017, mas o segundo ainda é mais comum em 15 estados. A diferença é maior em Roraima, Rio Grande do Sul, Goiás e Santa Catarina.

 

A empresa com maior número de clientes por rádio, a Unifique, está em Santa Catarina. Em segundo lugar fica a Master, de Divinópolis (MG).

 

"O mercado rural brasileiro tem um potencial muito grande e o índice de conectividade ainda é muito baixo", diz Paulo Bernardock, diretor de produtos da Ericsson Brasil.

 

As conexões mais precárias via rádio logo serão substituídas pelo 4G de grandes operadoras, prevê Bernardock.

 

"Vai surgir uma demanda por chips motivada pela automatização da agricultura."

 

A TIM, por exemplo, anunciou neste mês um projeto em Goianésia (GO) para conectar colhedoras, tratores e outros equipamentos via 4G.

 

Com o 4G, o campo ganha mais estabilidade na conexão. Em março de 2018, 93,2% dos municípios tinham alguma forma de 4G, mas as operadoras não são obrigadas a atender 100% da área das cidades, o que cria desigualdades entre os distritos.

 

"As pequenas empresas vão sentir a pressão das grandes em breve", diz Bernardock.

 

Em fevereiro, pela primeira vez em um ano, caíram os acessos de banda larga fixa dos provedores regionais, que vinham crescendo em ritmo mais acelerado do que das grandes operadoras de telefonia durante os anos de crise.

 

Fonte: Folha de S.Paulo