Poliomielite: doença pode voltar a fazer vítimas no Brasil

03/07/2018

 

Cobertura vacinal baixa colocou Ministério da Saúde e entidades médicas em alerta, nova campanha de vacinação está marcada para agosto

 

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a poliomielite é uma doença contagiosa, causada por um vírus que vive no intestino, chamado de pólio. Ela pode ser transmitida pelo contato com fezes infectadas ou por secreções expelidas pela pessoa doente os tossir ou espirrar.

O vírus se multiplica, inicialmente, nos locais por onde ele entra no organismo, pode ser na boca, garganta ou no intestino. Em seguida, vai para a corrente sanguínea e pode chegar até o sistema nervoso.

Na maioria das pessoas, o vírus causa apenas sintomas leves como febre e dor de garganta.

Casos como o de Geny, onde a doença desenvolve paralisia e causa sequelas permanentes representam cerca de 1%, mas já foram muito comuns no Brasil, principalmente no início do século XX, quando ainda não existia vacina, descoberta em 1953, os primeiros testes só foram feitos em 1955.

 

Doença pode voltar

 

A poliomielite está erradicada em toda a região das Américas há mais de 25 anos. No Brasil, o último caso foi registrado em 1990.

No mês passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a anunciar um possível caso em uma comunidade indígena da Venezuela, mas, dias depois, testes laboratoriais descartaram a possibilidade.

Mesmo assim, existe o risco de a doença voltar a fazer vítimas no Brasil. Na última quinta-feira (28), o Ministério da Saúde divulgou uma lista com 312 cidades onde a cobertura vacinal foi menor de 50% em 2017.

De acordo com o pediatra Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, os baixos índices de vacinação representam “um risco enorme”.

“A vacinação é a única forma de manter a doença erradicada, ter cobertura inferior a 80% já é um risco enorme”, destaca o pediatra.

Kfouri explica que dificilmente a doença volte a fazer vítimas com o vírus selvagem, o que foi erradicado, mas crianças não vacinadas podem ser infectadas pelo vírus vacinal.

Isto é possível porque existem dois tipos de vacina contra a pólio, a de vírus morto, injetável, e a de vírus vivo inativado — as famosas gotinhas.

Em crianças com menos de 1 ano que recebem a vacina com vírus vivo, “pode acontecer deste vírus sofrer uma mutação no organismo e se fortalecer, ou seja, recuperar a capacidade de infecção”, explica Kfouri.

Neste caso, a criança vacinada não vai ter a doença, mas as que não foram e convivem com ela, provavelmente vão.

 

Falta conscientização

 

Um dos principais motivos para a cobertura vacinal ter caído tanto nos últimos anos, segundo Renato Kfouri, é a falta de conscientização dos pais.

“Como não são registrados casos há muito tempo, existe uma perda da percepção de risco, as pessoas não lembram como a poliomielite pode ser agressiva. Uma companha de vacinação tem sucesso quando a doença está fazendo vítimas, quando isso não acontece, as pessoas perdem a noção do que a doença representa e acabam negligenciando o risco”.

De acordo com o médico, essa falta de percepção também afeta os profissionais de saúde, que acabam “não cobrando os responsáveis pelas crianças como deveriam”.

Para Geny, que enfrenta as consequências da doença todos os dias, é difícil entender por que os pais não vacinam os filhos.

“Na minha época não tinha vacina, mas hoje tem, é só levar no posto de saúde, é só uma gotinha, e é de graça”.

 

Fonte: R7