Dr. Bumbum e mãe são presos após quatro dias foragidos

19/07/2018


Denis Furtado foi indiciado pela morte da bancária Lilian Calixto, no domingo (15). Ele foi achado pela PM em um centro empresarial na Barra.

 

O médico Denis Cesar Barros Furtado, o Dr. Bumbum, e mãe dele Maria de Fátima Furtado foram presos na tarde desta quinta-feira (19), segundo informações da delegada Adriana Belém. Eles estavam foragidos desde domingo, quando a bancária Lilian Calixto morreu de complicações após se submeter a procedimento estético na casa de Denis, na Barra da Tijuca.

 

Eles foram encontrados por policiais do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes) em um centro empresarial na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Para chegar até eles, o setor de inteligência do batalhão contou com informações do Disque Denúncia que oferecia recompensa de R$ 1 mil por informações do paradeiro do médico e da mãe.

 

Ainda não há informações da mãe de Denis, a também médica Maria de Fátima Barros Furtado, que também estava foragida.

 

Denis será levado para a 16ª DP (Barra da Tijuca), que investiga o caso. A namorada de Denis, Renata Cirne, está presa desde domingo.

 

Na quarta-feira (18), a advogada Naiara Baldanza afirmou que seu cliente “sofre de síndrome do pânico” – razão pela qual ainda não tinha se entregado. “Julgá-lo neste momento ainda é muito precoce. O Dr. Denis é um dos médicos que mais realizam procedimentos de bioplastia no Brasil”, destacou.

 

O boletim médico do Hospital Barra D’Or, em que a bancária Lilian Calixto foi socorrida horas depois do procedimento estético, informou que ela chegou ao local com falta de ar, taquicardia e pele azulada, como mostrou o RJ2 nesta quarta-feira (18).

 

A polícia montou cerco em um shopping da Barra da Tijuca e chegou a dar voz de prisão a Denis, mas o médico conseguiu fugir - ele destruiu a cancela do estacionamento.

 

O caso

 

Lilian seguiu a indicação de uma amiga e entrou em contato com Denis há seis meses. Ela queria retocar o bumbum e marcou o procedimento.

 

Ao marido e à família, a bancária disse apenas que faria uma viagem para o Rio de Janeiro. Só a amiga que recomendou o Dr. Bumbum sabia do procedimento.

 

Também indicação da amiga, o taxista que levou Lilian ao condomínio de Denis, na Barra da Tijuca, tornou-se a testemunha-chave do caso. Lilian pediu que o motorista esperasse. A bancária já tinha começado a passar mal quando, desconfiado da demora, o taxista ligou para a passageira.

 

Denis desceu da cobertura, deu R$ 300 ao taxista e disse que ele poderia ir embora, alegando que Lilian ficaria para jantar. Ainda assim, o motorista ficou e viu, tempos depois, quando a SUV do médico deixou a garagem com Lilian, em direção ao hospital.

 

O taxista também descobriria que a bancária tinha morrido, avisando a polícia.

 

A bioplastia

 

A polícia apreendeu na casa de Denis recipientes com PMMA (polimetilmetacrilato). Trata-se de um tipo de acrílico usado para preenchimento em aplicações prometidas como definitivas.

 

Mas parecer do Conselho Federal de Medicina de 2013 listava denúncias a respeito da técnica. "Diversos médicos renomados relatam em seus consultórios que a falta de uma solução para o problema está acarretando aos pacientes graves complicações", diz a entidade.

 

Niveo Steffen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica em São Paulo, diz que não há estatísticas exatas sobre as complicações do PMMA, mas que procedimentos com a substância não são aconselháveis. Há muitos relatos de complicação.

 

"O uso de PMMA não é indicado. Vai contra tudo o que é recomendado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Ele não é absorvido pelo organismo e esse é um problema com ele", informa

 

"Deve ser utilizado por médicos em pequenas quantidades", explicou Hermann Tiesenhausen, diretor de Comunicação do Conselho Federal de Medicina.

 

Cronologia

 

Sábado, 14 de julho

 

Lilian chega ao Rio, vindo de Cuiabá (MT). À tarde, pega um táxi previamente contratado e vai ao encontro de Denis.

 

A promessa era fazer o procedimento em uma clínica, mas o endereço passado é o da cobertura do médico, em um condomínio da Barra da Tijuca.

 

Lilian não recua da cirurgia, mas pede ao taxista que a espere.

 

O procedimento atrasa, e Lilian liga para o motorista mais de uma vez para avisá-lo.

 

Durante a cirurgia, a bancária passa mal.

 

Às 22h, preocupado, o taxista liga para o número de Lilian.

 

Quem desce é Denis, que mente dizendo que a cliente ia ficar para jantar. Ele dá R$ 300 para o taxista e o manda embora.

 

O taxista desconfia e resolve ficar. Pouco depois, ele vê o médico saindo de carro com Lilian, acompanhado da mãe dele, da namorada e de uma técnica.

 

O taxista os segue de longe, e Denis chega com Lilian ao Hospital Barra D’Or.

 

Câmeras do hospital gravam a chegada às 22h50. Lilian, numa cadeira de rodas, ainda está consciente, mas apresenta falta de ar e taquicardia. Sua pele está azulada.

 

A namorada de Denis providencia a entrada da bancária na internação. O Dr. Bumbum se identifica como médico, mas omite o que aconteceu.

 

Internada, Lilian conta tudo aos médicos do Barra D’Or.

 

 

Domingo, 15 de julho

 

Na madrugada, o quadro de Lilian se agrava. Ela sofre pelo menos três paradas cardíacas e morre.

 

Informado da morte da paciente, Denis deixa o hospital. O taxista vê a SUV do médico saindo do estacionamento e descobre, na recepção, que sua passageira tinha morrido.

 

O motorista avisa à amiga de Lilian. Ela confirma com o hospital, que chama a polícia.

 

Equipe da 16ª DP (Barra) localiza o médico.

 

Renata liga para o taxista e pede para encontrá-lo para devolver os pertences de Lilian. Ela marca na "clínica" de Denis, um salão de beleza no Shopping Downtown.

A polícia monta um cerco e dá voz de prisão ao Dr. Bumbum. Ele consegue fugir.

 

A SUV do médico é encontrada abandonada tempos depois.

 

Fonte: G1