Com estrutura mínima e sem receita, Comitê Rio 2016 tenta quitar dívida de R$ 150 milhões

07/08/2018


No auge da preparação para os Jogos do Brasil, o Comitê Organizador Rio 2016 tinha cerca de 6.000 empregados, um orçamento da ordem de R$ 8 bilhões e apoio irrestrito dos três níveis de governo e do principal órgão olímpico internacional para uma organização bem-sucedida. Passados dois anos do término da Olimpíada, o Co-Rio continua ativo, mas perdeu todo o resto: o dinheiro acabou, os funcionários saíram, e os antigos aliados fecharam as portas para qualquer auxílio.

 

Atualmente, a entidade ostenta uma dívida de ao menos R$ 150 milhões com fornecedores, clientes e ex-funcionários. É provável que o balanço financeiro de 2017, que ainda não foi divulgado publicamente e passa por uma perícia contábil, aponte um valor ainda maior. O maior débito é com a multinacional francesa GL Events, que forneceu estruturas temporárias. Segundo o advogado Gustavo Gregati, diretor jurídico da empresa, são R$ 52 milhões devidos.

 

A GL Events, que tem sede na cidade francesa de Lyon, trabalha regularmente com o COI (Comitê Olímpico Internacional) e nos Jogos Olímpicos há mais de 20 anos. Nos 14 contratos que fez com a Rio 2016, a empresa empregou 1.200 pessoas e forneceu, entre outras coisas, 110 mil metros quadrados de tenda. Dada a demora para receber o pagamento, entrou com ação contra o comitê organizador.

 

- Em julho de 2017, nós judicializamos [o comitê]. Nós passamos um ano negociando, indo ao COI, falando com representantes do Rio 2016. Eram feitas várias promessas, até que chegou a hora em que a gente foi obrigado a judicializar tudo - complementou.

 

O imbróglio não se restringe a valores vultosos e corporações. O Comitê Rio 2016 também deixou de pagar consumidores que compraram ingressos e os revenderam na plataforma online disponibilizada pela própria entidade. Até hoje, cerca de mil pessoas nunca receberam o reembolso. Um deles é o economista Ricardo Tavares, que ainda busca recuperar R$ 1.410 em ingressos para partidas de futebol que devolveu para os organizadores.

 

- É um valor significativo. Pediram o número da conta e o valor bancário para ser ressarcido, mas esse valor não entrava. Depois de um tempo, o telefone de contato do comitê não funcionava mais. Só havia um e-mail de contato, no qual não havia resposta - afirmou Tavares.

 

Nesse meio tempo, a sede do comitê deixou de ser um complexo temporário no bairro da Cidade Nova, na região central do Rio, e passou a ser uma sala em um edifício também no Centro, cujo proprietário é o COB (Comitê Olímpico do Brasil). A mudança de endereço alienou os consumidores que buscavam o reembolso.

 

- A gente foi atrás de informações e descobriu que é possível entrar no juizado de pequenas causas. Conseguimos só agora o endereço do comitê no Rio para ser intimado, porque se eu não tiver isso nem posso dar andamento ao processo. Então é bem complicado - comentou.

 

O economista conseguiu o novo endereço por meio de um grupo no Whatsapp formado por outras pessoas que não receberam o reembolso, no qual foi incluído. A administradora Thais Cardoso, que mora no Rio, é outra que tem sofrido para resgatar os R$ 420 aos quais tem direito. Ela entrou no tribunal de pequenas causas para tentar reaver o valor.

 

- O valor é pequeno, mas todo esse stress de dois anos não pode ser em vão. Houve uma primeira audiência na qual o Rio 2016 não compareceu. Depois, teve uma segunda, em que o comitê ofertou o valor do ingresso e mais R$ 500, e com isso a gente pediu a posição final do juiz - disse ela.

 

O poço não tem fundo. O Comitê Rio 2016 é réu em 332 ações trabalhistas que correm atualmente movidas por vários de seus antigos milhares de funcionários.

 

Antigos mesmo, porque hoje em dia a realidade é bem mais difícil. No conjunto onde o comitê está estabelecido, há apenas nove funcionários em atividade. Um dos contratados, advogado, cuida das ações trabalhistas. Outros dois analisam as ações dos ingressos e dos fornecedores. Também há profissionais de TI (tecnologia da informação) e uma secretária.

 

Na folha de pagamento, o mais novo reforço é Ricardo Trade, que assumiu em junho o cargo de diretor-executivo com a missão de tentar encerrar de vez as dívidas e a entidade, cujo estatuto reza que deve ser encerrada em 2023. Conhecido como Baka no meio olímpico, Trade foi o CEO da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, e recentemente trabalhou com as confederações brasileiras de vôlei e basquete. Seu nome foi aprovado em assembleia com as confederações esportivas olímpicas nacionais, que são associadas ao Comitê Rio 2016.

 

Fonte: G1