China anuncia retaliação a Trump e governos temem que crise saia do controle
18/09/2018
O governo da China disse que aplicará retaliações a produtos americanos, depois que a Casa Branca anunciou uma elevação de tarifas no comércio com Pequim e mesmo diante das ameaças do presidente Donald Trump. Entre as delegações em Genebra na sede da Organização Mundial do Comércio (OMC), o temor é de que as retaliações mútuas e o avanço protecionista americano saia do controle, afetando a economia mundial.
Na segunda-feira, Trump indicou que vai impor tarifas de 10% sobre US$ 200 bilhões em importações chinesas a partir do dia 24. Esses valores aumentarão para 25% no início de 2019. A nova rodada se soma aos US$ 50 bilhões que já haviam sido taxados no início do ano, o que significa que os EUA vão cobrar tarifas de quase metade de tudo o que compram da China.
O comunicado do presidente americano afirma que “se a China tomar medidas de retaliação contra nossos agricultores ou outras indústrias, imediatamente buscaremos a fase três, que são tarifas adicionais sobre aproximadamente US$ 267 bilhões de importações”.
Na manhã desta terça-feira, 18, o governo da China deixou claro que vai responder. “Para salvaguardar seus direitos legítimos e interesses, além da ordem global do livre comércio, a China tomará contramedidas”, disse o Ministério do Comércio chinês.
De acordo com Pequim, 5 mil produtos chineses vão ser atingidos pela nova rodada de barreiras. As retaliações devem afetar ao menos US$ 60 bilhões em produtos americanos. Mas a resposta pode ser ainda maior.
Trump havia deixado claro que se os produtos americanos fossem alvos de retaliações, uma nova onda de barreiras seria anunciada, desta vez atingindo US$ 267 bilhões. Se isso ocorrer, Washington terá elevado tarifas para mais de US$ 500 bilhões desde o começo da administração Trump. Na prática, isso significará que mais de 50% do comércio bilateral terá sido afetado por medidas protecionistas.
Os dois governos já tinham imposto tarifas extras de 25% a US$ 50 bilhões em produtos de ambos os lados. Pequim, por exemplo, havia elevado tarifas para soja e outros produtos agrícolas dos EUA.
Diálogo prejudicado
O governo chinês aponta ainda que a decisão de Trump afeta os esforços de diálogo entre os dois países, iniciado na semana passada e aplaudido por governos estrangeiros. “Os EUA insistem em aumentar tarifas, o que traz incertezas às consultas entre os dois lados”, alertou a China, que já considera suspender as reuniões diante de um ambiente “envenenado”. “Espera-se que os EUA reconheçam as consequências possivelmente negativas de tais ações e as corrijam no momento adequado”, alertou.
Entre atores políticos, governos e representantes do setor privado, o temor é de que a crise saia de controle. A Câmara de Comércio americana na China alertou que a Casa Branca está subestimando a determinação de Pequim em proteger seus interesses. “O espiral para baixo que temos alertado parece que agora está se materializando”, disse William Zarit, presidente da entidade.
“Não estamos otimistas com uma possibilidade de um acordo no curto prazo”, alertou. “Ninguém sairá vitorioso disso.” Para ele, Washington não está se dando conta de que a China não irá ceder. “Estamos vivendo uma loucura econômica com as tarifas americanas”, alertou Mats Harborn, chefe da Câmara de Comércio da Europa na China.
As empresas americanas também estão preocupadas, alertando que o aumento de tarifas contra produtos chineses poderia fazer com que os itens aos consumidores americanos sofram uma inflação. Uma das empresas que fez o alerta é a Apple Inc.
Fonte: Estadão