Distribuidores da Taurus estão divididos sobre impacto nas vendas após decreto de Bolsonaro

16/01/2019


Distribuidores da Taurus Armas (antiga Forjas Taurus) ouvidos pelo Estadão/Broadcast estão divididos a respeito do impacto nas vendas do decreto que facilita a posse de armas, assinado nesta terça-feira, 15, pelo presidente Jair Bolsonaro. Embora os papéis da companhia tenham fechado o pregão desta terça em queda de mais de 20%, desde que Bolsonaro assumiu a dianteira na campanha eleitoral, prometendo regras mais flexíveis, as ações preferenciais da empresa subiram mais de 300%. 

 

Proprietário da Dumar Artigos de Caça e Pesca, representante da Taurus em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, José Pinheiro Pedrosa afirma que o decreto muda pouco o processo para compra de uma arma. Segundo ele, o principal efeito é tornar menos subjetiva a análise realizada pela Polícia Federal (PF), já que a nova regra flexibiliza a exigência do documento em que o futuro proprietário informa as razões para a “necessidade efetiva” de adquirir a arma. 

 

“A PF negava, em média, metade dos pedidos. Se o interessado usava bom português, tinha uma boa justificativa, aceitava. Se não, negava. E às vezes demorava muito para responder”, conta. 

 

Para ele, o movimento na bolsa de valores reflete pouco a realidade do comércio de armas. “Bolsa é um cassino. Tem um bocado (sic) de gente especulando, alguns ganhando e o povo perdendo”, afirma. 

 

Outro representante da companhia, Wallacy Jacomine, proprietário da Shot Point Comércio de Armas e Munições, em Campos, no Norte do Estado, aposta em aumento das vendas em cerca de 20%. Segundo ele, o principal limitador é o preço. Um revólver calibre 38 e a pistola calibre 308, que são os permitidos, custam cerca de R$ 3 mil e R$ 4 mil, respectivamente. 

 

“(O aumento nas vendas) não vai ser maior porque não é barato. O perfil do interessado também não deve mudar. São empresários, comerciantes, que procuram o revólver 38 e a pistola calibre 308 porque é o permitido para eles”, conta. 

 

Jacomine conta que comercializa armas da Taurus e da Imbel, outra fabricante nacional, e de mais três marcas importadas. Mais de 90% das vendas, porém, são de marcas nacionais e a Taurus responde por 80% das vendas entre as nacionais. Como realiza todo o processo burocrático de aprovação para os clientes, ele espera que a medida possa ter impacto no prazo de aprovação, que hoje varia de acordo com o escritório da PF responsável. 

 

“No Rio, que atende mais municípios, chega a levar 90 dias. Em Campos, cerca de 45 dias e, em Macaé, 30 dias”, conta, frisando que o local do pedido varia de acordo com o endereço de residência do interessado. “Como é muito subjetivo, às vezes o pedido fica esquecido porque não interessa dar a autorização. Agora, vai ser como tirar o passaporte: cumpriu as exigências, eles serão obrigados a dar”, completa o representante de Niterói.   

 

Na capital fluminense, outro representante da Taurus que prefere não se identificar diz não acreditar em impacto significativo nas vendas. Todos concordam, porém, que o maior feito da mudança até agora foi aumentar a propaganda. “A procura já aumentou em torno de 30%, mas é tudo por causa da propaganda”, completa Jacomine.

 

 

Fonte: Estadão