Huawei volta a lançar celulares no País após 4 anos

11/03/2019

É do alto de um escritório no 32.º andar no bairro do Morumbi, em São Paulo, com vista para a Marginal Pinheiros e ainda muitas cadeiras a preencher, que a chinesa Huawei tenta colocar em pé uma de suas principais metas em 2019: entrar no mercado brasileiro de smartphones. O retorno da empresa ao País já tem data marcada: a partir de maio, celulares premium da fabricante poderão ser encontrados nas lojas do País. “Queremos trazer ao Brasil as tecnologias mais inovadoras que temos”, diz Ketrina Dunagan, vice-presidente sênior de marketing da Huawei nas Américas, em entrevista exclusiva ao Estado.

 

É uma aposta bem diferente da que a empresa fez em 2013, quando tentou entrar pela primeira vez no País. Na época, importou aparelhos de entrada e intermediários, mas naufragou com a alta do dólar e a falta de conhecimento do consumidor local. “O Brasil é um mercado complexo pela estrutura tarifária. Não dá para vencer aqui se você não tiver fabricação local”, diz a executiva.

 

Segundo Ketrina, os smartphones que chegarão às lojas em maio serão trazidos de fora. Até o fim do ano, a empresa pretende montar seus celulares aqui – parceiros ainda estão sendo avaliados. Um time local, com áreas de logística, vendas e marketing, está sendo contratado. 

 

A Huawei diz ter mudado muito nos últimos quatro anos: com investimentos em pesquisa, passou a disputar a liderança em inovação em smartphones. Foi a primeira empresa a lançar um celular com câmera de três lentes, em 2018, numa parceria com a alemã Leica. Em fevereiro, surpreendeu ao exibir o Mate X, seu primeiro celular de tela dobrável e embarcado com 5G – tecnologia na qual a empresa também atua para melhorar a infraestrutura de redes.

 

A aposta em inovação rendeu frutos em vendas: a Huawei saltou de 5,5% do mercado global, em 2014, para 13%, em 2018, segundo dados da consultoria Gartner (ver quadro abaixo). Só no ano passado, suas vendas subiram 35% em unidades – incomodando Apple e Samsung. “Queremos ser líderes globais em até dois anos”, diz Ketrina.

 

Tropical. No Brasil, a Huawei também busca a liderança, mas a longo prazo, passo a passo – estratégia que incluirá o lançamento de aparelhos mais acessíveis no futuro. Um de seus trunfos é a longa parceria com as operadoras brasileiras, para as quais fornece infraestrutura de redes há duas décadas. Acordos com varejistas também estão sendo desenhados. “No lançamento, os brasileiros poderão ver e testar os produtos no varejo”, garante a executiva.

 

Para ter chance de concretizar suas ambições por aqui, a empresa terá vários desafios. O primeiro será se apresentar ao brasileiro: menos de 1% dos consumidores do País conhece a marca, segundo pesquisa da consultoria IDC Brasil feita em setembro de 2018. “Preço vai ser importante, mas a empresa terá de convencer que é melhor que Apple e Samsung”, diz Renato Meirelles, analista da IDC.

 

Para Eduardo Pellanda, professor de Comunicação Digital da PUC-RS, a fabricante tem argumentos sólidos de convencimento. “As câmeras da Huawei são das melhores atualmente. É um novo tipo de empresa chinesa, que desenvolve e produz na China, com custo mais baixo.” 

 

A empresa também enfrentará um mercado bastante concentrado: segundo a IDC, Samsung e Motorola responderam por nada menos que 78% das vendas de smartphones no País no ano passado. “O mercado precisa de novos competidores, mas quem quiser entrar precisará de marca forte e boas especificações”, diz Meirelles.

 

Na visão de analistas, a estratégia da empresa de começar por aparelhos mais caros é acertada. “Hoje, o brasileiro não está mais comprando seu primeiro celular, mas trocando seu aparelho por modelos mais caros”, diz o analista da IDC. O preço médio de um smartphone no Brasil, segundo a consultoria, saltou 13,7% em 2018, para R$ 1.307.

 

Embora tenha representatividade pequena nas vendas totais – celulares acima de R$ 2 mil são apenas 10,5% do mercado nacional –, o segmento premium é aquele em que a indústria tem melhores margens de lucro. “É uma estratégia clássica: começar com aparelhos mais caros para viabilizar produtos de massa”, avalia Pellanda, da PUC-RS. “Além disso, o mercado premium traz visibilidade. Se entrasse só vendendo celular barato, seria mais uma chinesa ‘xing ling’.”

 

Fonte: Estadão