Jornadas de trabalho exaustivas: o que fica para trás?

03/11/2025


O trabalho sempre fez parte da história humana. Surgiu da necessidade de sobrevivência e, ao longo do tempo, tornou-se um elemento central da vida em sociedade, tão presente que passou a ser confundido com a própria identidade das pessoas.


Mas, apesar de sua importância, é preciso refletir sobre como as atuais relações laborais afetam quem as vivem. Cargas horárias excessivas geram impactos físicos e emocionais profundos, e os efeitos não recaem apenas sobre quem trabalha, mas também sobre suas famílias.


O que e quanto se perde com as longas horas de trabalho?


Quando o tempo dedicado ao emprego ultrapassa o de descanso, surge um desequilíbrio, que se reflete em várias dimensões da vida. Pais e mães com filhos pequenos, por exemplo, se tornam ausentes em momentos fundamentais do crescimento das crianças.


Já quem busca estudar para conquistar melhores oportunidades enfrenta o desafio de conciliar o cansaço com a rotina intensa, competindo com pessoas que têm mais tempo e recursos. Além disso, a falta de lazer é outra consequência comum, especialmente para quem trabalha nos fins de semana e raramente consegue estar com amigos e familiares ou participar de comemorações.


Essas privações se acumulam e resultam em adoecimento. Segundo dados de 2024 do Ministério da Previdência Social, o Brasil enfrenta uma crise de saúde mental: foram quase meio milhão de afastamentos por transtornos psicológicos, o maior número em uma década. A maioria são mulheres, com idade média de 41 anos, que enfrentam quadros de ansiedade e depressão, o que também pode estar relacionado à jornada dupla da mulher que precisa dar conta do trabalho e dos afazeres domésticos. 


Escala 6x1: o retrato da exaustão no trabalho


De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), cerca de 33 milhões de brasileiros trabalham na escala 6x1, ou seja, têm apenas um dia de descanso por semana.


Especialistas alertam que esse modelo favorece o cansaço, o desânimo e até doenças cardiovasculares, em razão do estresse e da falta de repouso. Também é comum o surgimento de lesões musculoesqueléticas, como a LER (lesão por esforço repetitivo), além de fadiga crônica e distúrbios osteomusculares. A saúde mental, igualmente, tende a se deteriorar.


Por jornadas mais dignas


O fim da escala 6x1 é mais do que uma pauta trabalhista, é uma questão de saúde e dignidade. É urgente garantir rotinas de trabalho que respeitem os limites humanos e assegurem bem-estar, direitos e qualidade de vida para quem move o país todos os dias.

 

Há um século, em 1925, a Associação dos Empregados do Comércio de São Paulo — origem do atual Sindicato dos Comerciários de SP (SECSP) — já denunciava as jornadas exaustivas impostas aos trabalhadores. Em registros como o publicado no jornal Folha da Manhã, comerciários alertavam para o “excesso de horas” e exigiam limites humanos para o trabalho, iniciando uma trajetória que marcaria o sindicalismo paulista.

Cem anos depois, o SECSP mantém viva essa essência. Em 2025, espalhou faixas nas principais vias da cidade, percorreu centros comerciais e participou ativamente do plebiscito popular que ouviu a população sobre temas centrais: a redução da jornada sem redução salarial, o fim da escala 6×1 e a defesa de um sistema tributário mais justo — em que quem ganha mais de R$ 50 mil pague mais imposto para aliviar a carga de quem recebe até R$ 5 mil.

A escala 6x1, herança do passado, continua ferindo a convivência familiar, o lazer e a saúde dos trabalhadores, especialmente das mulheres, que enfrentam duplas e triplas jornadas. Encampando novamente a luta pela redução da jornada, como em 1925, o Sindicato reafirma sua missão ao olhar para o futuro: garantir trabalho digno, descanso justo e qualidade de vida para quem faz o comércio pulsar.