Mudar para vencer

Moacyr Pereira

Presidente do Siemaco e tesoureiro da União Geral dos Trabalhadores


30/09/2013

As entidades Sindicais americanas estão se organizando para enfrentar o que se pode chamar de futuro do Sindicalismo. Tive a oportunidade de conhecer no recente evento que fui como convidado da UAW o instituto criado pelas grandes confederações americanas, o CTW – Change to Win ou mudar para vencer em versão literal. Seu presidente carrega um nome emblemático no Sindicalismo americano: James P. Hoffa, filho de Jimmy Hoffa, grande líder dos caminhoneiros da América, agora presidido por seu único filho.

 

O movimento Sindical americano enfrenta grandes problemas em sua organização e sem força para atuar nas constantes ameaças aos trabalhadores que enfrentam

desemprego e salários baixos, longe do “sonho americano”. A responsabilidade não é pequena e mais do que vencer é preciso mudar para não fracassar. No Brasil temos uma situação diferente no que concerne a organização Sindical, ou melhor, ao financiamento da atividade Sindical. Isto nos coloca como versão quase única perante o Sindicalismo mundial. Organizações Sindicais em todo o mundo gostariam de ter o tipo de estrutura que temos.

 

Patrões de todo o Brasil gostariam que estivéssemos na situação em que se encontram nossos irmãos americanos. Costumamos dizer que não se mexe em time que está ganhando. Mas, temos que esperar perder? Trocar um pneu custa mais barato do que trocar a roda e talvez um eixo. Mas, como perceber o momento? Talvez, estejamos no momento de mudar para vencer ou no mínimo mudar para manter. Todo processo de mudança é complicado e cheio de resistências. Dizem que aprendemos com os erros dos outros. Não é verdade. No máximo aprimoramos nossa maneira de errar e só aprendemos quando algo dá errado conosco. A verdade é que só mudamos algo quando se muda as pessoas, cada um de nós sob “nova direção”, no caso novo rumo. É um processo de aprendizado que tem que se iniciar em algum momento. Não podemos nos preparar a cada engano ou ameaça. Pensar estrategicamente talvez seja o que muitos esperam de nós, lideranças Sindicais.

 

Hoje nossas organizações, notadamente a Fenascon e a UGT, estão inseridas nas organizações Sindicais internacionais. Este processo é importante, mas longe de ser um fim em si mesmo. Não se trata de criar organizações Sindicais globais, mas de usar estrategicamente os acordos feitos por meio de arranjos globais para facilitar a cooperação e o aprendizado dos Sindicatos entre diferentes países. O poder local dos Sindicatos deve ser flexível para intervir em pontos estratégicos dos Arranjos de Acordos Globais. Processos de globalização das relações de trabalho redesenham e aumentam a complexidade das relações de trabalho adicionando novos níveis (supranacionais), envolvendo mais atores e instituições e criando relações horizontais e verticais entre empresas e governos a nível internacional.

 

No Brasil contamos com parceiros no meio acadêmico que podem nos auxiliar em processos de mudança. É assim que estão fazendo na América e na Europa. Pode ser um bom caminho para nós e até para combater aqueles que temem as mudanças, preferindo continuar no conforto do “status quo”, que conhecem, do que aventurar-se na incerteza de uma nova realidade. O que não podemos é nos surpreender. Manuel Castells famoso cientista político por suas analises acerca dos movimentos populares em todo o mundo incluindo o Brasil, inicia seu livro “Redes de Indignação e Esperança” com a seguinte afirmação: Ninguém Esperava!

 

Precisamos nos preparar para não ser surpreendidos.

 

Moacyr Pereira, é presidente do Siemaco e tesoureiro da União Geral dos Trabalhadores