Crise acelera e provoca mais demissões em montadoras

12/08/2020


O metalúrgico Eder Siqueira Cardoso trabalhou 16 anos numa empresa de autopeças de São Bernardo do Campo (SP). No fim do ano passado, a chegada de um robô na linha de produção começou a incomodá-lo. Ele logo percebeu que o robô passou a fazer o trabalho que seis dos seus colegas faziam. A pandemia agravou a situação e no início de julho dezenas de operários perderem o emprego. Inclusive ele.

Uma nova onda de demissões já atinge autopeças e parte das montadoras. Nissan e Renault foram as primeiras a eliminar um turno inteiro de trabalho, cada uma, há poucas semanas. Na Nissan, em Resende (RJ), 398 operários foram indenizados porque a empresa decidiu dispensá-los antes do fim do período de estabilidade previsto na Medida Provisória 936, que reduziu temporariamente salários e jornada. Depois de três semanas em greve, ontem, os empregados da Renault aprovaram um acordo que substituiu a demissão de 747 trabalhadores por um programa de demissões voluntárias.

Seja por meio de voluntariado ou não, a indústria automobilística tem reduzido o nível de emprego. As crises ajudam a acelerar um processo provocado pelo aumento da automação. A última crise no setor foi entre 2014 e 2016. No ano seguinte, a produção voltou a acelerar, mas o nível de emprego não seguiu o mesmo ritmo. Entre o fim de 2013 e fim de 2013 e fim de 2019 mais de 28 mil vagas foram eliminadas nas fábricas de veículos, que hoje empregam 104 mil.

Nas últimas três décadas, a quantidade de veículos produzidos por empregado aumentou significativamente. Em 1979, cada trabalhador foi responsável pela montagem de oito veículos. Em 1989, a quantidade de veículos produzidos por empregado saltou para mais de 14 e no ano passado ficou em 26.

Aos 48 anos de idade, Eder começa a perder a esperança de voltar para uma fábrica. Já começou até a se virar com outras ocupações. Ele já fazia manutenção de celulares. Mas um incidente recente lhe abriu os olhos para uma oportunidade. Sua geladeira quebrou e ele passou três dias à espera de um técnico.


Fonte: Valor Econômico