Inadimplência volta a subir no início do ano e deve se agravar no 2º trimestre

12/04/2021


inadimplência voltou a subir em janeiro e fevereiro e, segundo economistas, a tendência é que continue em alta nos próximos meses devido ao agravamento da crise sanitária e ao encolhimento do auxílio emergencial.

De acordo com dados do Banco Central, atrasos acima de 90 dias em empréstimos alcançaram 2,3% em fevereiro, crescimento de 0,14 ponto em relação a dezembro, último mês de pagamento da primeira rodada do auxílio emergencial.

No fim do ano, o indicador estava em 2,12%, menor valor da história.

Também houve crescimento de 0,23 ponto percentual em atrasos de 15 a 90 dias, que foram a 3,08% em fevereiro. É o maior percentual desde maio do ano passado.

Na avaliação do professor de finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) Rafael Schiozer, os calotes devem aumentar nos próximos meses.

“O índice nesses primeiros meses veio mascarado pelas renegociações. Acho que temos uma onda de inadimplência vindo, especialmente no segundo trimestre”, diz

Em estimativa feita em outubro, o BC esperava que a inadimplência atingisse 4% já no primeiro trimestre de 2021. O valor fica próximo ao pico de 4,04%, observado em maio de 2017.

Na época em que foi feita a projeção, a análise era de que, com o fim do auxílio e o retorno das parcelas prorrogadas de empréstimos, além da desaceleração no mercado de trabalho, os consumidores poderiam ter dificuldades para honrar seus compromissos.

Segundo o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, nem todo atraso abaixo de 90 dias vira inadimplência de fato (só contas sem pagar acima desse prazo são consideradas inadimplentes pelo BC).

“Muitos renegociam antes disso e conseguem pagar a dívida. Não temos como afirmar se é uma alta pontual ou uma tendência”, disse em entrevista coletiva no final de março.

No entanto, o fenômeno vem sendo observado também nas concessões de operações de composição de dívidas —quando o cliente faz acordo para unir mais de uma modalidade de crédito em uma só.

Esse tipo de crédito aumentou 72,7% em 2020, na medida em que muitos aproveitaram o afrouxo regulatório para renegociar dívidas antigas e tentar condições melhores de pagamento. Em abril do ano passado o BC publicou norma que facilitou esse tipo de acordo.

Os atrasos no pagamento desse tipo de operação já indicam tendência de alta nos primeiros dois meses do ano, com crescimento de 1,56 ponto percentual entre dezembro e fevereiro. O indicador chegou a 13,5% –antes da crise, o número ficava entre 14% e 15%.

Os atrasos em modalidades mais caras também aumentaram em fevereiro. O cartão de crédito rotativo, quando o cliente não paga o valor total da fatura, fechou o mês em 11,1%, alta de 1,57 ponto percentual em relação a dezembro.

Fonte: Folha de S.Paulo