SP bane utensílios plásticos no comércio

22/01/2020


O governo da cidade de São Paulo aprovou, na última semana, uma lei que proíbe o fornecimento de copos, pratos, talheres, agitadores para bebidas e varas para balões descartáveis feitos de material plástico aos clientes de estabelecimentos comerciais do município, a partir de janeiro de 2021. A regra, apesar de ser mais ampla do que outras normas similares de proibição de utensílios plásticos já existentes – geralmente limitadas a canudos – reacendeu o debate sobre a efetividade da medida no controle e correta destinação do resíduo no país.

 

O assunto ainda é controverso e as opiniões se dividem entre os que são a favor e os que acham que leis como esta, da forma como estão sendo aplicadas, chegam até a agravar o problema, uma vez que utensílios banidos estariam sendo substituídos por outros de maior volume. Mas todos concordam que a forma como nos relacionamos com o plástico – e como nos desfazemos dele – é um tema que não dá para mais ser negligenciado.

 

Risco Global

Divulgado na última quarta-feira (15), o Relatório Global de Risco 2020, do Fórum Econômico Mundial, trouxe mudanças significativas na percepção da sociedade e das economias em relação aos riscos iminentes à humanidade. Segundo a entidade, esta é a primeira vez desde que o documento começou a ser publicado – o relatório está em sua 15ª edição – que todos os principais riscos de longo prazo, em relação à probabilidade, são ambientais.

 

Nos anos anteriores, problemas econômicos eram considerados as maiores ameaças. Agora, temores de colapso climático e perda de biodiversidade dominam. O uso desenfreado do plástico e a sua incorreta disposição são citados como vilões.

 

De acordo com o Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, entre 8 e 13 milhões de toneladas de plásticos são despejadas nos oceanos anualmente, causando um prejuízo estimado de 13 bilhões de dólares para os ecossistemas marinhos.

 

É como se mais de 60 aviões Boeing 747 pousassem nos mares e oceanos todos os dias, segundo estudo lançado pela ONG WWF, em março de 2019. Nesse ritmo, se nenhuma mudança acontecer em nossa relação com o uso do material, mais de 104 milhões de toneladas de plástico irão poluir nossos ecossistemas até 2030, diz a organização.

 

Todo mundo já deve ter visto imagens de animais marinhos presos em materiais plásticos ou da sujeira que esses poluentes deixam no oceano. Um vídeo em que uma equipe de biólogos tenta, por agonizantes oito minutos, retirar um canudo da narina de uma tartaruga viralizou em 2015. Foi a partir deste vídeo, inclusive, que leis de proibição de canudos começaram a pipocar por aqui.

 

Mas será que os canudos – e copos, pratos e talheres – são o principal problema do lixo plástico que, disposto de forma irregular no meio ambiente, encontra os oceanos como seu destino final?

 

Origem do lixo no mar

Um mutirão de limpeza anual realizado pela organização Ocean Conservancy em 122 países mostrou que, em 2018, as bitucas de cigarro lideraram a lista dos materiais mais encontrados em praias e regiões costeiras, em número de unidades coletadas. Embalagens de alimentos, como sorvetes e balas, ocuparam a segunda posição.

 

Canudos estão em terceiro no ranking, divulgado em 2019

Segundo a organização, desde 2017 todos os 10 itens mais comuns encontrados durante a “Limpeza Costeira Internacional” são feitos de plástico – considerando que os filtros dos cigarros contêm componentes desse material.

 

Mas isso em número de unidades, não em volume encontrado. Quando o problema é analisado mais de perto – bem mais de perto – fica claro que a culpa pela presença de plástico no mar não pode ser atribuída somente a má educação do banhista que não dispôs corretamente seu canudo.

 

Perigo que não se vê

Estudo publicado em novembro de 2019 pelo jornal científico americano Limnology and Oceanography Letters sugere que a escala da poluição plástica em nossos oceanos poderia ser um milhão de vezes pior do que anteriormente registrado. Ao analisar o intestino de minúsculos invertebrados que se alimentam por filtração, pesquisadores do Scripps Institution of Oceanography, na Califórnia, encontraram mini-microplásticos não detectados anteriormente, aumentando a magnitude do problema.

 

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a principal fonte de microplásticos nos oceanos não são canudos e copos, mas tecidos sintéticos (mais de 1/3). De fato, em 2016, um estudo conduzido na Universidade de Plymouth, no Reino Unido, calculou que cada ciclo de uma máquina de lavar pode disseminar mais de 700 mil pedaços de microplásticos no meio ambiente.

 

A segunda maior fonte, de acordo com a IUCN, são os pneus de carros, motos, caminhões e ônibus, que liberam minúsculas partículas de borracha sintética conforme vão erodindo com o atrito nas estradas. Produtos de cuidado pessoal e aglomerados de plástico somam apenas 2,3% do total do problema.

 

De acordo com o oceanógrafo Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), a contaminação de peixes e frutos do mar por microplásticos – e seu impacto na saúde humana – deve ser analisado com cuidado. Segundo ele, análises preliminares mostram que a contaminação pelo ar é muito maior. No entanto, ele concorda que as fontes de plástico no oceano vão muito além dos itens alvos das leis proibitivas nacionais.

 

“São várias as origens. O problema é muito complexo e tem que ser trabalhado com transparência e de forma compatível com essa complexidade”, defende.

De maneira geral, aqui no Brasil, por exemplo, os itens plásticos mais encontrados em praias e regiões costeiras são fragmentos sem formato identificado, provenientes de embalagens de uso doméstico, como potes de margarina ou recipientes de produtos de limpeza. O que nos leva a outra questão: a gestão dos resíduos sólidos no país.

 

Problema à brasileira

Levantamento realizado pelo WWF com base em dados do Banco Mundial mostrou que o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas/ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia.

 

Deste total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas (91%), mas apenas 145 toneladas (1,28%) foram efetivamente recicladas, ou seja, processadas na cadeia de produção como produto secundário. Segundo levantamento do WWF, este é um dos menores índices de reciclagem plástica registrados na pesquisa, bem abaixo da média global, que é de 9%.

 

Fonte: www.oeco.org.br