Home office: 60% das empresas não deram suporte ao trabalhador, diz pesquisa

13/11/2020


Relatório global que trata sobre o teletrabalho na pandemia mostra uma contradição. Ao mesmo tempo em que as empresas dizem acreditar que os funcionários precisarão estar no centro do design dos espaços de trabalho do futuro, a maioria delas reconhece que não mudou as políticas para os escritórios de modo a dar maior suporte aos empregados em trabalho remoto.

O relatório “Local de trabalho inteligente - Moldando experiências de empregados para um mundo transformado", ouviu 1.350 executivos de empresas em 19 países. No Brasil, foram 50 entrevistas.

Na avaliação da empresa de tecnologia NTT Ltd, responsável pelo levantamento, um dos indicativos de que o apoio a esse novo modelo de atuação está aquém das necessidades é no baixo índice de empresas que mudaram políticas de TI (Tecnologia da Informação).

No Brasil, 40% das companhias disseram ter feito alterações. A média global ficou em 30,7%.

Em muitos casos, empregados colocados em home office devido à pandemia tiveram de usar seus próprios equipamentos, como telefones, celulares e computadores, rede de internet, além de ferramentas e aplicativos de conectividade, para continuar suas rotinas de trabalho.

Para o vice-presidente sênior da NTT Ltd para América Latina, Jefferson Anselmo, o percentual aponta para um descolamento entre a intenção das companhias em reorganizar seus espaços de trabalho e as ações assumidas por elas até agora.

Segundo o relatório, 86,6% das empresas dizem acreditar que os funcionários precisarão ser o coração do desenho dos locais de trabalho do futuro. No Brasil, esse percentual está em 92%.

“Indica que as empresas ainda estão se preparando para as mudanças”, diz Anselmo. Na avaliação do executivo, em agosto, quando a pesquisa foi feita, as empresas estavam em um esforço para tornar o trabalho remoto possível. Agora, começam as preocupações em melhorar as condições.

Uma dessas melhorias estaria no desenvolvimento de novas ferramentas para produtividade e comunicação —caso de 36% das empresas no Brasil e 43,3%, no mundo— e no aumento de recursos de segurança de informação para manter funcionários e organizações seguras, opção adotada por 48% das companhias que atuam no Brasil (a média global é de 46,4%).

Anselmo diz que o percentual “pode parecer baixo”, mas que é necessário ver o número em perspectiva. “Se a gente pensar que a outra metade está se preparando, não é tão surpreendente”, afirma.

“Tornar o trabalho remoto possível era mais importante [nos primeiros meses de pandemia] do que tornar o trabalho seguro. Agora, no momento seguinte, a gente vê uma tendência cada vez maior de as empresas se preocuparem com a segurança desses acessos remotos.”

O relatório da NTT aponta ainda para uma maior flexibilidade do modelo de trabalho, com 84% das companhias brasileiras —acima dos 75% da média global e de 81% no continente americano— concordam que os empregados deverão ter a escolha de trabalhar nos escritórios.

Os encontros presenciais não serão abolidos, mesmo nos casos em que as ferramentas de conectividade já estejam bem integradas à rotina. E essas, por sua vez, também farão com que o retorno aos escritórios não seja mais como antes.

Segundo o relatório, 90% das empresas no Brasil consideram encontros presenciais como essenciais para a construção de espírito de equipe.

No ambiente de trabalho do futuro, os escritórios deverão ficar diferentes ao que conhecemos hoje, uma vez que quase metade das empresas —42% no Brasil— estão revisando a disposição de seus espaços para novas necessidades.

Para o vice-presidente sênior da NTT Ltd para América Latina, os dados do relatório apontam para espaços de reuniões menos formais e mais espaços compartilhados pelos escritórios.

Enquanto o ambiente de trabalho do futuro não chega, os representantes de trabalhadores tentam garantir direitos mínimos para quem está em home office.

A CLT prevê dois tipos de trabalho fora de empresas. Um refere-se ao trabalho no domicílio, o outro ao teletrabalho —esse último incluído pela reforma trabalhista de 2017— e na avaliação de especialistas, nenhum dos dois protege quem foi transferido para casa devido à pandemia.

Com isso, as negociações de data-base começam a incluir regras para esse tipo de atividade, uma vez que as empresas começam a estudar a adoção definitiva do modelo, seja ele parcial ou total.

No início de outubro, a Fequimfar (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas de São Paulo) fechou um aditivo para o acordo da categoria no qual prevê que qualquer responsabilidade pela viabilidade do teletrabalho será do empregador.

A regra vale para “aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação” do serviço.

No setor financeiro, os bancários assinaram em setembro um acordo com o Bradesco prevendo o fornecimento de cadeira, notebook ou computador de mesa, teclado e mouse, ou o pagamento de ajuda de custo não remuneratória para a aquisição desses equipamentos.

Fonte: Folha de S.Paulo