Com quase 800 mil assinaturas, Carta aos Brasileiros é ato histórico pela democracia
09/08/2022
Está perto de 800 mil o número de adesões à Carta às
Brasileiras e Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito, que já se
consagrou como um movimento histórico em defesa da democracia como foram as
ações de resistência durante o período de ditadura militar no Brasil.
O documento, elaborado na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, uniu todos os setores
da sociedade em torno de um único objetivo – salvar o Brasil da escalada
golpista do presidente Jair Bolsonaro (LP), que ataca o sistema eleitoral
brasileiro, os ministros das cortes superiores, faz fake news contra as urnas
eletrônicas e diz que não vai aceitar o resultado da eleição.
Até as 11h da manhã desta segunda (8), a Carta às
Brasileiras e Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito já tinha
795.830 adesões, número que cresce a cada instante, à base de 20 assinaturas
(ou mais) por minuto.
A meta é chegar em um milhão de assinaturas até a próxima
quinta-feira, 11 de agosto, dia em que o documento será lido no Largo de São
Francisco, em São Paulo. A data também será o dia de Mobilização nacional em
defesa da democracia e por eleições livres, organizada pela CUT, centrais
sindicais, movimentos populares, partidos políticos, estudantes e outras
entidades da sociedade civil.
A carta que, além de personalidades do meio jurídico,
acadêmico, político, sindical, dos movimentos sociais, de empresários e até
banqueiros, conta com grande engajamento de artistas e atletas que, assim como
na ditadura, somam suas vozes e forças na luta contra o autoritarismo.
E a lista é extensa. Em meio aos milhares de trabalhadores e
trabalhadoras, estão figuras como Chico Buarque, Dira Paes, Luís Fernando
Veríssimo, Jorge Furtado, Deborah Bloch, Alessandra Negrini, além de Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia.
Outras personalidades do meio televisivo também declararam
apoio como os jornalistas Juca Kfouri e Vera Magalhães, os ex-atletas
Casagrande e Raí, e até mesmo o apresentador Luciano Huck, ex-apoiador do
presidente Bolsonaro.
Do meio político, além do ex-presidente Lula e sua esposa
Janja da Silva, os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Luís Henrique D´Àvilla
(Novo) e Simone Tebet (MDB), os ex-presidentes Dilma Rousseff e Fernando
Henrique Cardoso, e o ex-governador de São Paulo e candidato à vice-presidência
na chapa de Lula, Geraldo Alckmin.
Do meio empresarial, são signatários da carta Roberto
Setubal e Cândido Bracher, executivos do Itaú Unibanco, Walter Schalka,
executivo da Suzano (do setor de papel e celulose), Pedro Passos e Guilherme
Leal, da Natura, Eduardo Vassimon, do grupo Votorantin e Horácio Lafer Piva, do
grupo Klabin.
Carta de 1977 é
referência de luta
Também em um mês de agosto, 1977, um grupo de advogados e
juristas elaborou uma carta de conteúdo semelhante, que reforçava a defesa de
uma democracia que à época estava acorrentada pelas forças militares no país. O
professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre em Direito, também no Largo
de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, em que denunciava a
ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção.
A carta conclamava o restabelecimento do Estado de Direito e
a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o professor e diretor da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FADUSP) Celso Campilongo
traçou uma relação entre os dois momentos históricos do país. Se a carta de
1977, em meio à repressão, ficou restrita a um pequeno grupo, a carta de 2022
ganhou grande repercussão e conta com assinaturas de todos os setores da
sociedade.
"É preciso uma coragem cívica para evitar uma recaída
autoritária no Brasil", afirmou o professor, ao se referir aos signatários
da carta e compará-los aos que assinaram um documento similar, em 1977, contra
a Ditadura Militar.
De acordo com ele, hoje, há também o clima de medo no país.
“Medo de as ameaças autoritárias se concretizem", explicou.
Fonte e Foto: Mundo Sindical