Moradia se aproxima do transporte em SP e arranha-céus surgem em áreas de casas na periferia

27/04/2021


Há alguns anos, quando se olhava para o alto no bairro Cidade Patriarca, na zona leste de São Paulo, só se viam pipas entre as nuvens. Agora, elas dividem espaços com cada vez mais arranha-céus.

Após o Plano Diretor aprovado em 2014, com incentivo para o adensamento ao longo dos eixos de transporte, os imóveis ficaram mais perto do metrô e corredores de ônibus. Algumas regiões da periferia paulistana onde praticamente só havia casas começaram a sentir mudanças em seu skyline.

Além dos bairros tradicionalmente cobiçados pelo mercado, a lista dos lugares que mais tiveram lançamentos residenciais verticais próximo dos eixos de transporte conta com distritos da periferia nas primeiras colocações, segundo dados da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento.

O distrito da Vila Matilde, onde fica a Cidade Patriarca, está em quinto lugar no número de lançamentos, quando se mede por metro quadrado. Está logo atrás de Pinheiros (zona oeste), Vila Mariana, Moema e Jardim Paulista, esses três na zona sul. O top 10 também traz outros distritos periféricos como São Lucas e Cidade Ademar.

O distrito da Vila Matilde é servido por três estações de metrô: Vila Matilde, Guilhermina-Esperança e Patriarca, todas na lotada linha 3-Vermelha, paralela à Radial Leste.

Naquela região, casinhas têm sido demolidas para virar empreendimentos de tipos variados: desde aqueles com espaço de lazer, para público com maior poder aquisitivo, até microapartamentos em condomínios sem garagem.

Bastante arborizada, cheia de praças e com ruas largas, a Cidade Patriarca foi planejada seguindo parâmetros dos Jardins. As casonas com quintais, porém, ficaram cada vez mais caras e cobiçadas por construtoras.

Após boa parte da vida em uma casa com quintal naquele bairro, o operador logístico Tiago Soares, 39, mudou-se para um condomínio de apartamentos pequenos próximo do metrô Patriarca.

O imóvel anterior, uma casa espaçosa pertencente à família dele, acabou vendido e transformado em outro prédio pequeno. Na rua do empreendimento, outros quintais desapareceram para dar espaço a edifícios.

Em uma casa recém-demolida, é possível ver uma placa avisando sobre um lançamento, com dois dormitórios e lazer completo.

Soares diz que pretende voltar a morar em uma casa um dia, mas que no curto prazo há mais chances de mudar para um apartamento maior. “Hoje, eu moraria num apartamento maior com área de lazer. Seria melhor para minha filha e para a segurança dela”, diz.

Para corretores de imóveis da região, havia uma demanda reprimida por apartamentos com espaço de lazer e voltado a um público com maior poder aquisitivo naquela região, atrás de mais segurança e de pontos melhor localizados.

Os novos empreendimentos, muitas vezes, são procurados por pessoas de bairros mais distantes e com pior oferta de transporte público.

"A região um pouco mais afastada, como Guaianases, Itaquera, tem uma deficiência de apartamentos mais novos, com lazer melhor. E a renda per capita da região deu uma aumentada. Então são pessoas que já têm um imóvel mais antigo, e acabam querendo migrar mais para a frente [perto do centro]", diz Rodrigo Correa, 36, que trabalha como corretor na imobiliária JD, que atende a região.

"A pessoa consegue dar um salto de região, ter um imóvel com lazer, tecnologia melhor, localização melhor e próximo do metrô", completa.

Apesar da cobiça pelo metrô, as linhas de São Paulo, principalmente a 3-vermelha, demonstram sinais de saturação nos horários de pico. De manhã, nas estações da zona leste no período pré-pandemia, era comum haver filas ainda nas passarelas do lado de fora. E o corredor de ônibus previsto para a Radial Leste, que poderia ajudar a desafogar o transporte público na região, ainda não foi entregue.

Fonte: Folha de S.Paulo