Tributação sobre dividendos pode afetar fundos imobiliários

12/07/2021


As mudanças propostas na segunda parte da reforma tributária podem afetar o retorno do investidor que aloca recursos em fundos imobiliários (FIIs).

São dois pontos principais que podem influenciar esses resultados: a cobrança de impostos sobre os dividendos (parte do resultado do fundo, distribuído aos cotistas) e o tributo sobre ganho de capital – cuja alíquota foi de 20% para 15%.

Os fundos também seguem obrigados a distribuir 95% dos lucros auferidos, mas a reforma propõe que a periodicidade do pagamento –que atualmente é semestral– passe a ser anual.

As operações do portfólio do fundo imobiliário em si continuam isentas de tributação.

Apesar de as mudanças propostas na reforma terem impactado no preço das cotas no curtíssimo prazo, analistas e executivos do setor afirmam que a tendência ainda é positiva para a indústria de fundos imobiliários.

“O que atrapalha é o ruído no caminho. O mercado perdeu bilhões só pelo ruído [trazido pela reforma tributária]. Mas quem tem visão de longo prazo aproveita [para comprar as cotas] em momentos como esse”, afirmou Gustavo Kosnitzer, responsável pela área de mercado de capitais da Warren.

Ele afirma que a indústria de fundos imobiliários chegou a perder R$ 3,5 bilhões quando a reforma foi entregue.

O Ifix (Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários) da B3, indicador básico do mercado que acompanha o desempenho médio das cotações dos FIIs negociados na Bolsa de Valores, terminou o mês de junho com 2.754,89 pontos –no mês anterior, estava em 2.816,46 pontos.

Em relatório divulgado pela XP recentemente, os analistas Renan Manda e Lucas Hoon, da área de construção civil, shopping centers, imóveis comerciais e FIIs, e a analista Maria Fernanda Violatti, de research e real state (setor imobiliário), afirmaram que ainda enxergam oportunidades para os fundos imobiliários no atual cenário.

“Destacamos que a proposta ainda pode sofrer alterações e ajustes no seu texto durante todo o processo de aprovação, até que chegue em sua forma final”, afirmaram em relatório.

Apesar de terem sofrido os impactos do coronavírus no primeiro semestre do ano passado –quando diversos investidores retiraram recursos da categoria diante do cenário da época– os FIIs já começam a demonstrar uma recuperação próxima aos vistos no ambiente pré-pandemia.

Os analistas afirmam, ainda, que a tendência é positiva diante das expectativas de recuperação da economia, e a retomada total das atividades no curto e médio prazos têm dado novo fôlego aos fundos imobiliários.

As estimativas são positivas tanto para os chamados fundos de tijolo –ou fundos de renda, que investem em imóveis físicos– quanto para as carteiras que alocam recursos em recebíveis imobiliários (fundos de papéis) ou em empreendimentos (fundos de desenvolvimento).

Segundo Henrique Garcia, executivo-chefe de operações responsável pelo desenvolvimento de produtos da SmartBrain, plataforma de controle e consolidação de investimentos, apesar das perdas significativas sentidas pelos FIIs no ano passado, diante da pandemia do coronavírus, uma nova percepção sobre como a recuperação se dará tem melhorado os preços das carteiras.

“Percebemos uma melhora muito grande em cima das condições gerais porque o posicionamento que vemos na economia é diferente do que foi precificado no ano passado. Agora, a grande novidade é a tributação, mas temos que esperar para ver o que de fato passa [no Congresso]", afirmou Garcia.

Um levantamento recente feito pela Smartbrain usando o último relatório mensal da B3, de junho, apontou que 27,7% dos 198 fundos negociados na Bolsa de Valores tiveram retornos positivos no mês —valor bastante inferior do que os 64,4% vistos em maio.

A maior rentabilidade do mês ficou com o Alianza FOF (fundo de fundos), cuja rentabilidade atingiu 102,75% no período. Em seguida veio o General Shopping e Outlets do Brasil (fundo de tijolo que investe em shoppings), que rendeu 28,78%.

No acumulado de 2021 até o final de junho, 50 fundos tiveram performance positiva. Entre os destaques, ficaram dois fundos de tijolos –um voltado para shoppings e outro para escritórios– e um fundo de desenvolvimento.

“Temos uma visão positiva da economia e, consequentemente, dessas carteiras. O aumento da Selic [taxa básica de juros] já está precificado. Isso significa que se a Selic e a recuperação se mantiverem dentro da projeção, a tendência é positiva porque os imóveis mantêm uma correlação com a pandemia”, afirmou Kosnitzer.

“Se a economia cresce, o PIB [Produto Interno Bruto] cresce, o poder de consumo cresce, os retornos vindos de shopping crescem”, completa.

Fonte: Folha de S.Paulo