Varejo surpreende em julho, mas inflação pode prejudicar vendas nos próximos meses

13/09/2021


No quarto mês consecutivo de alta, as vendas do comércio varejista brasileiro subiram 1,2% em julho na comparação mensal, acima do esperado pelo mercado – de alta de 0,7% –, e atingiram o recorde da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2000.

Para economistas do mercado financeiro, os dados mostram que o setor pode estar retomando o ritmo, mas que o forte desempenho não deve perdurar por muito tempo. Isso porque a inflação, que já acumula alta de 5,97% no ano até agosto, pode vir a ser uma ameaça no horizonte.

Em relatório, o Bradesco BBI escreve que os números referentes a julho vieram positivos, indicando que as vendas no varejo estão enfrentando condições mais favoráveis do que nos meses anteriores.

“Após uma aparente perda de ímpeto em junho, os números parecem estar acelerando novamente, à medida que destacamos um crescimento significativo nas vendas de vestuário e outros produtos de uso pessoal”, escrevem os economistas.

Segundo o time, os dados refletem o movimento de “volta ao normal”, com o avanço da vacinação e redução no número de casos de coronavírus.

Embora isso possa ser um alívio para a atividade econômica, após os fracos resultados da produção industrial em julho, o banco afirma que contribui para uma alta da inflação no curto prazo. Recentemente, o BBI atualizou sua estimativa para o IPCA em 2021, de 7,8% para alta de 8,2%.

Para a Rio Bravo, o que mais chamou a atenção no dado foi o crescimento no setor de veículos (de 0,2% na comparação mensal), mesmo com as dificuldades na produção de automóveis devido à piora na cadeia de suprimentos.

“Não esperamos, contudo, que esse forte desempenho do varejo permaneça nos próximos meses, tendo em vista a inflação no mercado de bens e a continuidade das restrições na cadeia de suprimentos”, escrevem os economistas.

Retomada sólida, mas inflação preocupa

Com a maior mobilidade social e prorrogação do auxílio emergencial, o setor de varejo encenou uma recuperação sólida no segundo trimestre, em conjunto com o avanço do programa de vacinação contra a Covid-19 e com a reabertura gradual da economia.

Alberto Ramos, economista do Golman Sachs, avalia que as vendas no varejo devem crescer ainda mais durante o segundo semestre deste ano, mas que o aumento da inflação e das taxas de juros, com condições financeiras mais restritivas somadas à incerteza política, podem limitar o lado positivo.

Já a CM Capital afirma que os dados divulgados nesta sexta vão em linha com a alta do IPCA de agosto, com destaque para os grupos de bens comercializáveis e não comercializáveis, apontando uma movimentação similar para os dados do setor de serviços, que serão divulgados na próxima semana.

A equipe de análise da XP também destaca que, no geral, o aumento da mobilidade, o auxílio emergencial e a melhoria gradual no nível de emprego forneceram algum suporte para as atividades de varejo no período recente. “Por outro lado, a inflação alta persistente e a deterioração das condições financeiras são obstáculos significativos. No conjunto, esperamos que as vendas no varejo mantenham tendência de crescimento modesto nos próximos meses”, avalia.

Como investir na Bolsa?

Em relatório, os analistas de ações da XP chamam a atenção para a tendência positiva das categorias de vestuário e calçados, bem como artigos farmacêuticos, demonstrada nos números divulgados nesta sexta.

Por outro lado, destaca que as vendas dos segmentos de móveis e eletrodomésticos, além de supermercados e hipermercados, tiveram uma leve queda, o que é explicado, segundo os analistas, pela base forte de comparação do mesmo período de 2020.

“Esperamos que a dinâmica de consumo siga em uma tendência positiva, principalmente no segmento de vestuário e calçados, impulsionada pelo avanço da vacinação e retomada das atividades econômicas e sociais. No entanto, vemos a maior incerteza do cenário macro/político e a escalada da inflação como um risco para a retomada do setor frente à deterioração da confiança do consumidor e renda disponível das famílias”, escreve a XP.

Neste cenário, que se soma ainda ao aumento das incertezas políticas e macroeconômicas, a XP tem dado preferência na Bolsa pela exposição a empresas “com forte posicionamento, sólido histórico de execução e com fundamentos específicos bem estruturados”.

É o caso do setor de “atacarejo”, que a casa vê como uma combinação de proteção contra a inflação, além de resiliência e crescimento, sendo Assaí (ASAI3) o nome preferido.

Apesar do consumo discricionário ser um segmento muito impactado por uma deterioração macro, a XP diz gostar de Arezzo (ARZZ3), Grupo Soma (SOMA3) e Vivara (VIVA3), por focarem em classes mais altas, que oferecem uma maior resiliência, e por contarem com um crescimento orgânico “sólido”.

Por fim, a XP vê farmácias como um setor resiliente para se ter carteira – caso de nomes como d1000 (DMVF3) e Pague Menos (PGMN3) –, enquanto o e-commerce deve continuar a enfrentar maior volatilidade.

Fonte: InfoMoney