Economia dá sinais positivos no fim de 2021, mas analistas veem perda de ritmo em 2022

14/02/2022


desempenho do setor de serviços acima do esperado em dezembro aponta para um cenário de atividade econômica mais aquecida no país no final de 2021, dizem analistas.

Segundo eles, a alta de 1,4% no volume do setor, na comparação com novembro, reforça as apostas de PIB (Produto Interno Bruto) com variação positiva no quarto trimestre do ano passado.

O quadro, porém, ainda está longe de causar empolgação. Há risco de a atividade econômica perder fôlego já no primeiro trimestre de 2022, apontam analistas.

O que causa preocupação neste início de ano é a combinação entre juros mais altos, cujos efeitos tendem a ser intensificados, e inflação persistente. Em conjunto, os fatores jogam contra o consumo e os investimentos produtivos.

O desempenho do setor de serviços em dezembro foi divulgado nesta quinta (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A variação de 1,4% superou com folga as expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço de 0,6%.

"Os dados de serviços mostraram um cenário um pouco melhor do que o esperado para o final do ano passado", diz a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria.

Segundo ela, após a divulgação de serviços, o banco deve elevar a estimativa para o PIB do quarto trimestre de 2021. A previsão deve passar de 0% para até 0,3%.

Antes de divulgar o resultado de serviços, o IBGE informou que a produção industrial cresceu 2,9% em dezembro, também acima das previsões. Já as vendas do varejo recuaram 0,1%, menos do que o esperado.

"É uma fotografia melhor do que a esperada no final de 2021, mas o filme em 2022 deve ser diferente. Estamos em um começo de ano com inflação alta e juros maiores", diz a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

"Havia um consumo reprimido de serviços, e a gente viu isso ao longo do segundo semestre do ano passado, com a reabertura da economia", acrescenta.

A Veedha projeta avanço de 0,2% para o PIB do quarto trimestre de 2021, mas o número pode até ficar um pouco maior após a divulgação do desempenho de serviços, conforme Camila.

Por ora, a Rio Bravo Investimentos também estima avanço 0,2% no período. Há possibilidade de o número ser revisto para cima, na casa de 0,3%, conforme o economista Luca Mercadante.

"Os dados mais fortes do que o esperado em setores como serviços, no final de 2021, mostram os efeitos da reabertura da economia", analisa.

"Embora tenham sido positivos, esses resultados não devem representar uma reversão de tendência", pondera o economista.

A consultoria MB Associados, por sua vez, mantém a projeção de PIB com variação positiva de 0,1% no quarto trimestre de 2021. Na prática, o número representa uma estagnação da economia brasileira, diz o economista-chefe da MB, Sergio Vale.

Segundo ele, os efeitos dos juros maiores e da inflação persistente tendem a frear a atividade econômica nos primeiros meses de 2022. Na semana passada, o BC (Banco Central) elevou a taxa básica de juros, a Selic, para 10,75%.

"Tivemos dados muito bons em parte das atividades [no final de 2021], mas essa não é uma tendência. Agora, o impacto dos juros mais altos deve aparecer com mais intensidade", afirma Vale.

O resultado oficial do PIB do quarto trimestre será divulgado pelo IBGE em março.

Fonte: Folha de S.Paulo