Consumidor pode usar o 13º para quitar dívidas em feirões

25/11/2019


Às vésperas da época mais movimentada do orçamento familiar, consumidores com contas atrasadas podem renegociar dívidas e limpar o nome ante os birôs de crédito. Os descontos oferecidos nos feirões chegam a 99%.


Também é possível renegociar prazos maiores para quitar os pagamentos.

O dinheiro extra que chega no fim do mês, com o pagamento da primeira parcela do 13º salário —as empresas precisam depositar até o dia 30 de novembro— ajuda na renegociação. 

 

Neste ano ainda é possível usar o saque extra do FGTS, liberado pelo governo —até o limite de R$ 500— para estimular o consumo. Até 19 de novembro, cerca de 44 milhões de trabalhadores resgataram R$ 18,9 bilhões por meio do Saque Imediato do FGTS.

 

A parcela de 8,7 milhões de brasileiros, nascidos nos meses de junho e julho, tiveram o saque liberado na semana passada.

A Serasa já fechou mais de um milhão de acordos. “Esse está sendo o maior feirão da história da casa”, afirma o gerente sênior da Serasa Consumidor, Giresse Contini.


De cada 10 negociações, 7 terminaram em pagamentos à vista, sendo que 43% tiveram descontos de 81% a 98%. Para participar, é preciso se cadastrar no site serasaconsumidor.com.br/limpa-nome-online.

 

No feirão do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), as 120 empresas participantes dão descontos de até 90%. O cadastro é pelo site spcbrasil.org.br/feirao.

Segundo Marcela Kawauti, economista-chefe do birô, o primeiro passo para fechar negócio é o consumidor saber qual é a dívida que tem e o quanto pode pagar.

 

“Ele precisa entender sua própria situação financeira. É necessário ver se a empresa credora entrou no programa de renegociação. Caso tenha entrado, o consumidor precisa saber quanto gasta do seu orçamento total para, só então, separar o montante que conseguirá usar para quitar a dívida”, afirma a economista.

 

Estudo do SPC Brasil de julho mostrou que 31% dos inadimplentes culpavam o desemprego pelo endividamento. Outros 20% disseram ter comprado sem checar o orçamento, 18% culparam a renda baixa e 12% disseram ter emprestado nome ou dinheiro para alguém.


“Desemprego e renda estão ligados à economia do país, mas a falta de controle orçamentária é algo preocupante. Isso nos faz imaginar que mesmo que haja uma recuperação econômica, a inadimplência pode continuar sendo um problema”, diz Kawauti.

 

O total de inadimplentes no país ultrapassa os 12 milhões.

Para o economista da Boa Vista, Flávio Calife, o primeiro ponto que o consumidor precisa atentar é que a renegociação não exige intermediários.

Segundo ele, o contato direto com o credor é mais fácil e, o mais importante, gratuito —intermediadores, normalmente, cobram um valor sobre o serviço prestado.

Outro ponto é ter o orçamento na ponta do lápis, para que os parâmetros da capacidade de pagar a dívida estejam visíveis e detalhados.

 

“Uma renegociação malfeita normalmente leva o consumidor a ficar inadimplente de novo. Nossos números históricos apontam que 50% dos consumidores que deviam algum valor, e conseguiram acertar as contas, voltaram a ficar inadimplentes em menos de um ano. Alguns, inclusive, em menos de três meses”, pondera o economista.


Na Boa Vista (acertandosuascontas.com.br), o feirão vai até o final de dezembro, abrangendo 63 cidades de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Pará e Alagoas.

Calife destaca, ainda, a importância de ter cuidado ao usar o dinheiro do 13º salário e dos saques do FGTS.

“Se há dívidas em atraso, esses recursos têm o acerto de contas como destino. Muita gente considera o FGTS e o 13º como renda extra, mas é preciso ser consciente para que isso não atrapalhe ainda mais o orçamento”, afirma.

 

A boa notícia veio em um levantamento feito pelo SPC Brasil, que aponta que 38% dos beneficiários que vão sacar seus recursos do FGTS pretendem usar o dinheiro para quitar dívidas. O percentual corresponde a cerca de 10 milhões de pessoas.

 

Os especialistas defendem, ainda, a importância da implementação do cadastro positivo no sistema financeiro.

“Vemos um maior entendimento e interesse pelo assunto, mas há um bom trabalho de educação financeira que ainda vai levar de um a dois anos. As pessoas estão mais abertas, mas estamos em um processo inicial”, diz Contini.

 

Com o fim da primeira fase, momento em que bancos e instituições financeiras enviaram os dados para os birôs participantes, há o processo de aviso dos consumidores de abertura e inclusão no cadastro.

 

A adesão dos setores de telecomunicação, varejo e utilidades deve ocorrer ao em 2020.

“Faremos, em conjunto com outros birôs, uma série de ações de educação financeira para que as pessoas entendam o cadastro positivo e trabalhem a sua nota de crédito de maneira saudável para conseguir juros melhores na hora do crédito, que é o que vemos acontecer em outros países”, conclui o gerente da Serasa.

 

Fonte: Folha de S.Paulo