Marcas de relógio se reinventam para competir com Apple

27/11/2018


Os fabricantes de relógios foram apanhados de surpresa pelo sucesso do smartwatch da Apple e agora tentam acompanhar a mudança no gosto dos consumidores por meio de sistemas de alerta e outros recursos de alta tecnologia adicionados a relógios tradicionais.

 

Marcas como TAG Heuer, Swatch e Fossil trabalham com rivais da Apple como o Google, parte do grupo Alphabet, e a Intel, a fim de oferecer relógios ou funções inteligentes em seus aparelhos, mantendo o design convencional.

 

Os embarques mundiais de relógios suíços vêm caindo constantemente desde que o Apple Watch foi lançado, em 2015, uma baixa agravada pela desaceleração das vendas na China. 

 

A despeito de uma recuperação nos dois últimos anos, na temporada de festas do ano passado, os fabricantes suíços foram deixados para trás pela Apple. Foi a primeira vez que isso aconteceu.

 

O banco UBS prevê que as vendas do Apple Watch cresçam 40% no ano que vem, para 33 milhões de unidades. A gigante da tecnologia deve vender 8,8 milhões de unidades de seu relógio no quarto trimestre deste ano, afirma Francisco Jeronimo, diretor de pesquisa da IDC.

 

“O mercado mundial de relógios sofreu um choque e nos preocupa”, afirma Daeboong Kim, diretor da Cooperativa Sul-Coreana da Indústria da Relojoaria. 

 

A cooperativa está recebendo assessoria da Samsung para ajudar seus integrantes a desenvolver relógios com funções inteligentes.

 

As vendas de relógios inteligentes superaram as de relógios mecânicos em 2016, e as de relógios híbridos subiram a 7,5 milhões de unidades em 2017, ante praticamente zero em 2015, de acordo com o grupo de pesquisa Euromonitor International. 

 

A distância entre os relógios convencionais e os eletrônicos está crescendo. O Apple Watch Série 4, lançado no mês passado, adicionou um alerta que é ativado quando o usuário cai e uma função que identifica irregularidades cardíacas. 

 

Os analistas dizem que esses recursos atraem uma categoria de compradores leais que tipicamente resistem mais à tecnologia: os usuários mais velhos.

 

Embora alguns fabricantes tradicionais de relógios tenham tentado ingressar no mercado de smartwatches, muitos preferiram se concentrar nos híbridos, que tipicamente não têm telas de toque. 

 

Em lugar disso, são sincronizados a smartphones por meio de um aplicativo e alertam o usuário quanto a mensagens e telefonemas por meio de uma vibração, sinal luminoso ou movimento dos ponteiros. 

 

Por meio de uma conexão bluetooth, usuários podem usar os botões do relógio para controlar as funções de câmera e música do celular.

 

A TAG é uma das marcas de relógios de luxo que estão contra-atacando, ao lançar uma atualização de seu smartwatch Connected Modular 41 há alguns meses. O relógio resulta de uma colaboração entre a empresa, o Google e a Intel, e tem funções de fitness, GPS e pagamentos por gestos.

 

Jean-Claude Biver, presidente-executivo da TAG Heuer, diz que o híbrido tem sucesso porque “se parece com um relógio real, dá a mesma sensação no uso, mas oferece toda a informação de que o dono precisa”. 

 

A TAG é parte do grupo LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, que não revela dados sobre vendas.

O Connected Modular 41 mais barato da TAG Heuer é vendido por cerca de US$ 1.200 (R$ 4.600).

 

Os fabricantes de relógios de luxo estão entre os menos afetados pela concorrência da Apple, mas há outras marcas suíças de luxo pesquisando sobre modelos híbrido.

 

A Hublot, por exemplo, se concentra em relógios com edições limitadas, em projetos combinados com parceiros comerciais. Lançou 2.018 unidades do Big Bang Referee para a Copa do Mundo deste ano. Os relógios ofereciam alertas sobre assuntos do jogo. 

 

A companhia planeja criar relógios que se conectarão a carros de luxo e esportivos, registrando dados de desempenho e abrindo portas.

 

“Devemos trazer algo diferente do que já existe. Não estamos competindo com a Apple”, diz Ricardo Guadalupe, presidente-executivo.

 

Os fabricantes suíços de relógios que operam em categorias de preço parecidas com as da Apple (de cerca de US$ 399, R$ 1.542) sofrem com a competição da empresa americana, e o número de empresas de relojoaria deficitárias cresce no segmento de preço baixo e médio, de acordo com a Federação da Indústria da Relojoaria Suíça.

 

O Fossil, sediado no Texas, que também opera sob outros nomes de marca, domina o mercado mundial de relógios híbridos, respondendo por um terço das vendas no mercado mundial. 

 

Fonte: Folha de S.Paulo