Samu terá mudança e alterará rotas em SP; médicos alertam para novos gargalos

29/03/2019


A gestão Bruno Covas (PSDB) anunciou uma reorganização no Samu que cortará gastos e tende a fragilizar um serviço de urgências já estrangulado  na cidade de São Paulo.

 

A mudança visível é o fechamento de 31 contêineres espalhados pela cidade especificamente para abrigar os socorristas, previsto para a primeira semana de abril. Em reação, funcionários anunciaram paralisação parcial do serviço para a próxima segunda (1º).

 

Sem elas, as equipes ocuparão salas em postos de saúde, AMAs, hospitais e centros de atendimento psicossocial.

 

A prefeitura argumenta que isso constitui aumento no número de bases, mas funcionários afirmam que o desmonte de uma estrutura que vinha se aperfeiçoando havia anos vai se refletir no aumento do tempo-resposta às emergências.

 

Na capital, o intervalo entre a chamada de emergência e a chegada da ambulância é mais do que o dobro do preconizado em casos graves. 

 

Nessas ocasiões, em que há risco do paciente morrer, o tempo médio de atendimento é de 30 minutos —18 a mais do que preconizam organizações médicas internacionais. 

 

Além da demora, metade das chamadas que viram ocorrência (descartados trotes e ligações duplicadas) nunca é atendida pelas ambulâncias. 

 

A mãe da advogada Rachel Lucena Malheiros, 33, teve uma forte crise de asma quando voltava do trabalho em outubro de 2018 em uma rua do bairro do Paraíso. 

 

Clélia Cristina Cardoso Lucena, 68, ficou mais de uma hora na calçada a espera do Samu, que não veio. “Uma médica a levou em seu carro ao hospital Santa Catarina, a dois quarteirões dali”, diz Rachel.

 

Ao dar entrada no hospital, Clélia teve parada respiratória e entrou em coma. Morreu três meses depois.

 

"Os médicos disseram que ela poderia ter sobrevivido se o atendimento não tivesse demorado tanto”, diz a advogada, que questionou a prefeitura formalmente sobre o Samu.

 

A Secretaria de Saúde afirmou que o chamado foi encerrado porque houve comunicação de que a vítima fora removida pelos bombeiros.

 

As mudanças anunciadas devem tornar o atendimento ainda mais lento, dizem funcionários. As bases vão deixar de operar em pontos estratégicos, perto de locais de maior incidência de chamados, e a estrutura para as equipes terá caráter improvisado.

 

Há casos em que a sala cedida ao Samu não oferece condições para higienização de ambulâncias, materiais e uniformes após as ocorrências, em que derramamento de sangue é comum. As bases atuais contam com espaços propícios. 

 

Outro problema apontado é que, dentro de hospitais e unidades de saúde, as ambulâncias enfrentarão obstáculos que vão de portões a congestionamentos nos quais se perdem minutos preciosos em uma emergência. Há endereços que só funcionam de dia e impossibilitam a permanência no plantão noturno.

 

Os funcionários temem que, uma vez em hospitais, fique mais comum a prática de usar as ambulâncias do Samu para fazer transferências. É o que servidores chamam de “Samuber”, com a UTI móvel usada em transporte sem urgência. 

 

Fonte: Folha de S.Paulo