Roberto de Lucena colocará em debate na Câmara doença que causa infertilidade na mulher

10/06/2013

Pela primeira vez na história do Congresso Nacional Brasileiro, a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, a pedido do deputado federal Roberto de Lucena (PV-SP),vice presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores, colocará a endometriose, doença que causa a infertilidade na mulher, na pauta de discussões da Casa nesta semana. Durante audiência pública, marcada para quinta-feira (13), às 9h, um grupo de médicos especialistas no assunto promoverá um amplo debate sobre os diagnósticos e tratamentos da doença no Brasil.

 

De acordo com Roberto de Lucena, o principal objetivo da audiência pública, além de ajudar na divulgação dos sintomas e melhor conhecimento da endometriose, será construir, juntamente com os especialistas no assunto e os poderes Legislativo e Executivo, uma política de saúde pública eficiente e resolutiva para tratar desta doença que atinge milhões de brasileiras. “Não é mais possível não debater a endometriose no Brasil. Essa doença está maltratando nossas adolescentes, causando a infertilidade e afastando as brasileiras do mercado de trabalho”, lamenta o deputado.

 

Para o ginecologista e obstetra Maurício Abrão, presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), é preciso melhorar a qualidade de vida das mulheres com endometriose, por meio da conscientização da sociedade como um todo. “Além disso, precisamos disseminar o conhecimento científico relacionado à doença e criar e aprofundar a interface com órgãos governamentais como o Ministério da Saúde e outras entidades ligadas à saúde da mulher”, destaca.

 

Na medicina, a endometriose é definida como a presença, fora do útero, de tecido semelhante ao endométrio, causando uma reação crônica e inflamatória e está associada à dor, subfertilidade e qualidade de vida prejudicada. Essa condição é encontrada, principalmente, em mulheres em idade reprodutiva, de todos os grupos étnicos e sociais.

 

Para a presidente do portal Informação e Apoio às Portadoras de Endometriose IAPE, Claudia Vasconcelos, a maior dificuldade das mulheres com endometriose é a falta de um diagnóstico rápido e preciso da doença. Segundo ela, a escassez de profissionais com conhecimento profundo da doença é gritante no Brasil. “Tenho informações de que a endometriose é ensinada no curso de ginecologia em, no máximo, 4 horas! Isso e nada é quase a mesma coisa”, ressalta ela chamando a atenção para o fato de que o estudo da endometriose é complexo e de vital importância para a saúde da mulher. “Se a endometriose não tem recebido a devida atenção no currículo das universidades, acredito que o curso de ginecologia deva ser revisto com urgência”, defende.

 

A endometriose é responsável por 40% dos casos de infertilidade no Brasil, mas apenas um terço das brasileiras associa a doença à dificuldade de engravidar, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva. O levantamento, feito com cinco mil mulheres com mais de 18 anos, no país, revelou ainda que 88% não sabem como tratar o problema e que 55% não sabem sequer o que é a doença.

 

No Brasil, cerca de 6 milhões de mulheres têm endometriose. O diagnóstico, no entanto, costuma ocorrer por volta dos 30 anos, por ser uma doença que apresenta diferentes sintomas ou até assintomática.

 

De acordo com vários estudos, a endometriose acomete mulheres a partir da primeira menstruação e pode se estender até a última. “Infelizmente, o diagnóstico não costuma ser tão rápido por falta de informação e acesso aos serviços de saúde, o que se torna um problema para as mulheres.”, lamenta o ginecologista.

 

Dados da SBE revelam, ainda, que as pacientes apresentam diminuição da qualidade de vida e redução de suas atividades, gerando problemas psicossociais, frustração e isolamento. Há também um impacto causado pelas perdas de horas de trabalho, o absenteísmo.

 

Tratamento

O tratamento para a endometriose inclui medicações e, em alguns casos, um processo cirúrgico que tem como objetivo aliviar as dores fortes, impedir a evolução da doença e tentar restabelecer a fertilidade. O método mais indicado dependerá da extensão da doença, assim como da idade da paciente e de seus planos reprodutivos. “Apenas um médico pode indicar o melhor tratamento para cada caso”, destaca o presidente da SBE.

 

“Como parlamentar, esposo, pai de uma filha e avô de uma neta, já compreendi que a endometriose é uma doença da mulher e que merece toda a nossa atenção, a atenção do poder público. O Estado tem a obrigação de cuidar da saúde e oferecer qualidade de vida às mulheres brasileiras”, ressalta o deputado.

 

Segundo Roberto de Lucena, a Constituição Federal é clara, em seu artigo 196, quando destaca que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

 

Dia Nacional

Durante a audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família, marcada para às 9h, no Plenário 7, da Câmara dos Deputados, Roberto de Lucena apresentará, também, durante as discussões, um projeto de lei para incluir, no calendário nacional, o dia 8 de maio como Dia Nacional da Endometriose.

 

Para debater a endometriose na Câmara dos Deputados, já estão confirmadas as presenças do presidente da SBE, ginecologista Maurício Abrão; o médico radiologista que desenvolveu o diagnóstico por imagem da endometriose, Manoel Orlando Gonçalves; o cirurgião colorretal Marcelo Averbach; a presidente do Instituto de Apoio às Portadoras de Endometriose IAPE, Claudia Vasconcelos; e um representante do Ministério da Saúde.