Bikes: expansão de ciclovias aquece negócios

19/01/2015

Estima-se que 300 mil bicicletas circulem diariamente por São Paulo durante a semana. Aos finais de semana, o número passa para 550 mil. Os números apontados pela Abraciclo (Associação brasileira dos fabricantes de motocicletas, ciclomotores, motonetas, bicicleta e similares) estão em crescimento e tendem a aumentar, tanto pela população cada vez mais simpática às bikes quanto pelas políticas públicas do governo Haddad - a Avenida Paulista, por exemplo, já está em obras para a inclusão de uma ciclovia. Está pronto o cenário para os negócios que envolvam bicicleta se multipliquem pela cidade.

 

“Vejo um mercado crescente. O ciclismo é visto como uma atividade que não traz lesões e ajuda a manter a forma. Além disso, tem a questão do estilo de vida. A sociedade precisa de alternativas para o transporte e a bicicleta tem se mostrado eficiente”, analisa Erick Azzi, consultor que trabalha com bicicletas desde 1992. 

 

Os novos negócios seguem a tendência da mudança de vida das pessoas. “Tem gente que já pedala aos finais de semana e também aqueles que encaram a bicicleta como uma filosofia. É em torno desses núcleos que dá para ganhar dinheiro”, orienta Marcelo Sinelli, consultor do Sebrae.

 

De olho nesse público, empresários sem medo de arriscar abriram bike cafés, mudaram o status das entregas com bicicletas e chegam até a vender banhos.

 

Bicicletaria + café + conveniência

Unir café e bicicleta é uma prática comum na Europa e, aos poucos, vem ganhando espaço por aqui, principalmente na região de Pinheiros. Fabio Samori inaugurou o Aro 27 em junho de 2013, pouco depois do Las Magrelas, que fica a menos de dois quilômetros de distância. Em junho de 2014, Camila Romano e Paulo Filho abriram o King of the Fork, entre um estabelecimento e outro.

 

“A zona oeste é um lugar de efervescência cultural e com a bike não foi diferente. Tem uma grande concentração de pessoas que usam a bicicleta por aqui. E a gente se conhecia antes mesmo de montar os negócios e sempre batalhamos pela bike”, explica Fabio Samori. “Acho que a gente vai se complementando e não se engalfinhando”, continua.

 

Cada empreendimento tem o seu estilo e une diversos serviços. E esqueça a ideia de bicicletaria como uma oficina escura ou cheia de graxa. Aqui, os negócios oferecem serviços e também espaços de convivência e contam com um ar descolado.

 

O Aro 27, por exemplo, teve investimento de R$ 350 mil e já abriu com café, oficina e o conceito de park and shower (usuário paga uma taxa para estacionar a bike e tomar um banho. Local oferece armários, toalhas e sabonete líquido). “Estou nos 85% de retorno do investimento, mas vai se completar antes dos dois anos que a gente imaginava. Comparando o faturamento bruto dos meses, a gente sempre passou de 100% de crescimento”, afirma Samori.

 

Apesar de ter serviços para a bicicleta e ter sido o primeiro da cidade oferecer os banhos, o que rende mais no Aro 27 é a alimentação, com aproximadamente 70% do negócio, segundo Samori.

 

Com um investimento um pouco menor, de R$ 130 mil, nasceu o King of The Fork. O foco de Camila Romano e Paulo Filho foi criar um espaço para convivência entre ciclistas. O KOF, como já foi apelidado, é um restaurante com cardápio enxuto, com sanduíches e produtos artesanais, e aposta no café. “Quando se fala em pedal, não combina muito ir a uma choperia. Se você anda ou viaja de bicicleta, o café é como se fosse um doping legal. E acho que funciona bem como um ponto de encontro de duas culturas, de quem gosta de café e de quem anda de bicicleta”, explica Camila.

 

Há também o bike café onde a parte de alimentação é um complemento, como Ciclourbano. O negócio nasceu em 2009 como comércio on line de bicicleta e, em 2011, foi ampliado para loja física. No local foi feita uma bicicletaria e também um café. Os produtos e serviços são voltados para quem pedala na cidade e precisa de uma bike diferente de quem faz trilhas ou esporte. O crescimento dos ciclistas em São Paulo e o envolvimento com essa cultura da bike propiciaram o negócio. 

 

O maior giro de negócios ainda vem das bicicletas propriamente ditas. Segundo Leandro Valadares, um dos donos, a venda de peças e bikes representa 60% do negócio, enquanto a oficina rende de 20% a 25% e o restante fica com alimentação.

 

“Fomos os pioneiros nesse espaço de convivência”, fala Valadares. “Não pretendo lucrar tudo com o café, mas ele complementa e me ajuda com os negócios da bike”, comenta.  A área é usada como uma alternativa para os clientes esperarem os consertos nas bicicletas, por exemplo.

 

Banho também é negócio

A ideia dos donos dos bike cafés é ter um espaço para o ciclista e, sem dúvida, conquistar outros públicos. Não é preciso ter uma bicicleta para entrar em um desses lugares. Como não é preciso ser ciclista para virar cliente do Dress me up. O local também tem o conceito de park and shower, como o Aro 27, e foi inaugurado em abril de 2014, próximo à Avenida Berrini.

 

Com o banho, conquistou um público diferente no final do ano. “Consegui trazer clientes pensando nas confraternizações. Tem muita gente que vem de fretado e trabalha na região e mora longe. Então lançamos o seguinte: ‘Você está indo para a festa da empresa? Tome um banho aqui e vá curtir’. O movimento foi excelente e foram mais de 50 banhos nesse pacote”, conta Rodrigo Gonçalves, um dos sócios do Dress me up. Além disso, ele aproveita o espaço em frente à loja para convidar food trucks para o almoço e ainda aluga salas no segundo andar para eventos e reuniões.

 

“Somos um bike point e temos serviços de manutenção, banho, estacionamento e venda de peças e acessórios”, define Gonçalves. “O mercado de bicicleta está crescendo e nunca se falou tanto de bike quanto ultimamente. Meu maior movimento ainda é da parte da bicicletaria, da manutenção. O estacionamento e o banho acabam como um plus”, completa.

 

Com que roupa eu vou?

Além da sacada e vender banhos, há a expansão - óbvia até - de marcas de roupas especializadas para os bikers. Nada de bermudas de ciclistas com almofadinhas no bumbum ou feitas em lycra. A ideia é fazer roupas com cara de dia a dia adaptadas para o pedal.

 

Quem trabalha com isso é a Velô, que lançou a primeira coleção em agosto de 2014. As peças, 23 no total, vão de tornozeleiras, que ajudam a prender a calça para que ela não encoste na corrente, a blazer social e vestidos. Uma blusa, por exemplo, conta com uma cava um pouco maior para dar conforto, e a calça tem bolsos e um recorte no joelho para ajudar no movimento. Além disso, há a preocupação com a tecnologia. São usados tecidos com fator de proteção UV 50, bacteriostáticos (que previnem a proliferação de bactérias e, assim, o mau cheiro) e poliamida, que seca mais rápido do que o algodão.

 

“Ninguém fala que você está com roupa de ciclista, mas você tem o conforto, está prontinha para subir na bike e chegar alinhada onde precisa”, resume Claudia Pereira Weingrill, uma das sócias da Velô e quem cuida da modelagem. 

 

Entrega saudável

O movimento em torno das bicicletas ganha força. “As pessoas moram em São Paulo, com o trânsito caótico e buscam alternativas. A bike atua na questão ambiental, por não poluir, na mobilidade e em uma relação mais saudável com a cidade. As pessoas viram na bicicleta esse elemento transformador”, define Daniel Guth, consultor de mobilidade urbana e diretor da Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo). 

 

Seguindo a linha ecologicamente sustentável, empresas de entregas e serviços com bicicletas também crescem em São Paulo. Já são mais de 30 em atividade na capital paulista.

 

Uma delas é a Carbono Zero Courier. Os irmãos Danilo e Rafael Mambretti começaram o negócio em 2010 com desejo de empreender e ter algo que fizesse bem ao planeta. Por que não trocar os serviços de um motoboy por um ciclista? A empresa começou com dois bikers e hoje conta com mais de 40.

 

“No começo nossos preço era 30% menor que o do motoboy e nosso público era da galera da bicicleta. Era um cara que pedalava e tinha um negócio, um dono de agência de publicidade. Hoje, nosso público cresceu e nosso preço é o mesmo do motoboy”, explica Rafael.

 

Fonte: IG