Trabalhadores da GM de São José dos Campos entram em greve contra demissões

23/02/2015

Cerca de 3.000 metalúrgicos do turno da manhã da General Motors de São José dos Campos decretaram greve nesta sexta-feira (20) na unidade do Vale do Paraíba (SP). A decisão foi tomada em assembleia nesta manhã em retaliação da categoria ao plano da montadora de demitir 794 trabalhadores.

 

Está prevista uma segunda assembleia com o segundo turno, hoje às 14h30, para votação da greve geral no local. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, a GM propôs a abertura de lay-off (suspensão do contrato de trabalho), por dois meses para esse contingente, mas após esse período, todos seriam demitidos. O sindicato informa que a empresa também propôs, como alternativa, a demissão imediata desses 794 funcionários 

 

Em nota, a GM informou que "não foi oficialmente comunicada pelo sindicato local" em relação ao movimento de greve iniciado hoje no complexo industrial de São José dos Campos. "A decisão causou surpresa pois a proposta apresentada pela GM foi deturpada pelo sindicato. Em função disso, a GM tomará as medidas legais cabíveis”, informa a empresa. Questionada sobre o número de trabalhaores excedentes e com contrato suspenso no País, a empresa não se pronunciou.

 

A GM informa também que protocolou, no Tribunal Regional do Trabalho de Campinas, o pedido de Dissídio Coletivo. Uma audiência de conciliação ficou agendada para o dia 24 de fevereiro às 15h30. A expectativa da empresa é que os empregados do complexo industrial de São José dos Campos retornem ao trabalho imediatamente.

 

De acordo com o sindicato, no último dia 13, os 798 trabalhadores que estavam em lay-off desde setembro voltaram à fábrica. "Todos têm garantia de emprego até 7 de agosto. Portanto, nenhum deles pode ser incluído nos planos de demissão da GM", alega o sindicato.

 

A unidade de São José dos Campos tem cerca de 5.200 trabalhadores e produz 300 veículos por dia, dos modelos S10 e Trailblazer.

 

A linha de produção da GM de São Caetano do Sul, no ABC Paulista, não opera nesta semana de carnaval, para ajustar a produção à atual demanda do mercado, de acordo com informações da GM. Já as linhas de produção em Gravataí e em São José dos Campos não funcionaram na segunda-feira (16), na terça-feira (17) e na quarta-feira (18); ontem (19) e hoje (20) operam normalmente.

 

O Sindicato informou que pedirá ao governo de Dilma Rousseff que edite uma Medida Provisória garantindo estabilidade no emprego para todos os trabalhadores de empresas que recebem incentivos fiscais, como é o caso das montadoras.

 

“A presidente Dilma não pode se omitir diante de uma situação tão grave quanto esta. Nós exigimos estabilidade no emprego, já”, disse o secretário-geral do Sindicato e membro da Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates, o Mancha.

 

Em 2014, o setor automotivo foi o que registrou a maior retração na indústria brasileira, recuo de 16,8%. As montadoras a demitiram 14.110 pessoas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O nível de emprego no setor fechou o ano em 144.623 postos ocupados, queda de 8,9% sobre 2013 (158.733 postos).

 

O presidente do Sindicato, Antônio Ferreira de Barros, entrou em contato na quinta-feira à noite com o ministro do Trabalho, Manoel Dias, e solicitou que o governo federal faça a intermediação nas negociações com a GM.

 

No início deste mês, a montadora abriu um Programa de Desligamento Voluntário (PDV) para os empregados horistas dos complexos industriais de São Caetano do Sul e de São José dos Campos no período de 2 a 10 de fevereiro de 2015. A medida tem como objetivo adequar a produção à atual demanda do mercado. A crise está tão séria que já tem 950 funcionários com os contratos suspensos (lay off), forma que a empresa utiliza para não demitir e, assim, não descumprir o compromisso com o governo e sindicato dos trabalhadores de não demitir até 2016.

 

Setor automotivo vive tempos difíceis e devem desempregar

O setor automotivo viveu um dos anos mais difíceis em 2014, apesar dos incentivos do governo federal nos últimos anos. As desonerações do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), por exemplo, tinham como objetivo incentivar o consumo e, assim manter o nível do emprego, por meio de acordos com as montadoras de não demissão. Há ainda um acordo setorial com o governo federal de lay off (suspensão do contrato de trabalho) para evitar demissões.

 

O cenário tem feito uma série de montadoras ajustar a produção por meio de concessão de férias, suspensão de contratos de trabalho e redução de jornadas em fábricas. Em janeiro, a Volks chegou a anunciar a demissão de 800 funcionários de São Bernardo do Campo, mas voltou atrás após 9 dias de greve geral na montadora. A Mercedes-Benz também demitiu 120 funcionários em janeiros, em São Bernardo. Ford, MAN, GM e Volkswagen planejam férias coletivas agora em fevereiro.

 

Fonte: IG