Seleção pelo Enem e cotas dividem analistas dentro e fora da USP

24/06/2015

O novo formato de seleção de calouros dividiu analistas dentro e fora da USP.

 

Para Adolpho José Melfi, ex-reitor da instituição, a adoção do Enem como instrumento de seleção é uma "boa medida", que pode ampliar a inclusão na universidade.

 

Ele critica, porém, a reserva de vagas. "As universidades precisam dar mais oportunidades para grupos que tenham mais dificuldade de acesso, mas sou contra as cotas raciais", afirmou ele.

 

"Penso que o melhor caminho seria instituir cotas sociais, dar mais chance para pessoas com menor poder aquisitivo, vindas de escolas públicas. A cota racial pode criar situações de negros ricos, embora sejam poucos no Brasil, terem mais chance de acesso que uma pessoa não negra e pobre", completou.

 

Para frei Davi Santos, diretor-executivo da Educafro, ONG voltada à inclusão de negros no ensino superior, a nova seleção mostra "um crescimento da consciência social da universidade".

 

Ele critica, porém, que cursos tradicionais e mais disputados da capital, como medicina e engenharia, tenham ficado de fora da medida. "[A USP] deixa de assumir um compromisso com um país melhor, mais integrado", diz.

 

Eduardo Figueiredo, coordenador do pré-vestibular Objetivo, discorda. "Em medicina, tem que prevalecer a meritocracia. É questão de justiça que todos concorram com a mesma chance, sem vantagem para ninguém."

Para ele, o exame federal não tem "qualidade" para substituir as provas da Fuvest, que faz a seleção da USP.

 

Diretor da Faculdade de Direito (que destinará 20% das vagas para o ensino público via Enem), José Tucci afirma que a inclusão deve ser feita na USP, mas com "prudência" -por isso, o Direito não aderiu à reserva a alunos pretos, pardos e indígenas.

 

"Não é só dar a vaga, precisamos definir como o aluno consegue se manter na universidade", disse.

 

Para Maria Cristina de Oliveira Reali Esposito, presidente da Comissão de Direito à Educação e à Informação da OAB de São Paulo, a seleção mais ampla exigirá da USP acompanhamento mais próximo dos calouros.

 

"A Faculdade de Direito é um curso difícil. Esses alunos precisam ser acompanhados para que consigam concluir."

 

Fonte: Folha de S.Paulo