Mercado de trabalho em tecnologia possui profissões aquecidas

27/03/2017


Diretor da Yoctoo, empresa especializada em recrutamento para a área de tecnologia, Henrique Gamba afirma que o mercado brasileiro de tecnologia é pouco maduro em relação ao americano e europeu. “No entanto, como a evolução tecnológica é globalizada, as novas tendências chegam rapidamente por aqui. Ocorre que muitas vezes as empresas desejam implantá-las, mas não encontram no mercado nacional profissionais capacitados”, diz.

 

Para identificar quais são as atividades de ponta em tecnologia mais demandadas atualmente, o Estado ouvimos executivos da área de TI e de recrutamento. Entre as atividades apontadas por eles está a de ‘hacker do bem’.

 

A rotina de trabalho desse profissional envolve, principalmente, propor soluções criativas para problemas de difícil solução. “É o famoso ‘pensar fora da caixa’, técnica que exige olhar holístico sobre problemas de segurança, como análises de vulnerabilidades, análise de malware e investigações de crimes cibernéticos”, conta o analista de segurança sênior da Trend Micro, Fernando Mercês.

 

Segundo ele, a demanda só tem aumentado, porque a preocupação com a segurança é cada vez maior. “No cenário atual, em que os dados mais valiosos das empresas estão em computadores, contar com hackers para a defesa digital é imprescindível. Existem muitos profissionais na área de segurança, mas poucos atuantes nesta área. Em contrapartida, existem muitos hackers trabalhando para o crime. Portanto, a busca por reais hackers para trabalhar contra o crime cibernético é imensa.”

 

Mercês afirma que ter diploma não é fator determinante para ocupar a função. “Vários profissionais não concluíram a graduação e estudaram por conta própria, afinal, a internet fornece vasto conhecimento sobre a área. Certificações ajudam, mas questionamentos e autodidatismo são características essenciais dos hackers.”

 

O analista diz que um hacker não pode ser superficial. Tem de ler muito e fazer testes todos os dias para provar ou contestar o que foi lido e estudado. “Ponto para quem se mantém atualizado e fica de olho nas novas tendências e tecnologias. O mercado está em alta, mas é preciso ter qualidade. Dada a importância da função, os salários costumam ser generosos”, diz.

 

Para uma empresa implantar uma área de Big Data, que utiliza volume massivo de dados que são usados para orientar a tomada de decisão, é preciso montar um time de profissionais que irão operar e manipular as informações. Entre eles estão matemáticos e estatísticos, chamados cientistas de dados.

 

“São profissionais com grande bagagem acadêmica que entendem os modelos preditivos e estatísticos para criar modelos que façam sentido para as empresas”, diz Gamba.

Segundo ele, os cientistas de dados trabalham junto com engenheiros e cientistas da computação, que desenvolvem os softwares. “São profissionais mais técnicos, que conhecem as ferramentas de tecnologia e operam os dados. Todos são muito demandados pelo mercado, mas falta gente qualificada no Brasil.”

 

Outra atuação que está em ascensão no mundo tecnológico é o DevOps (Desenvolvimento + Operações). “É muito mais uma metodologia que tem por objetivo fazer com que a mesma pessoa ou equipe que desenvolve o software o coloque para funcionar”, afirma Gamba.

 

O empresário conta que cada vez mais seus clientes solicitam profissionais para implantar a cultura do DevOps dentro de suas companhias. “Muita gente no Brasil conhece o processo na teoria, mas poucas empresas conseguiram implantar de fato. É um desafio.”

 

Ele afirma que esse profissional tem de ter grande bagagem técnica, além de boa comunicação e habilidade para se relacionar com as áreas, fazendo o papel de evangelizador. “Tem de ser mais político. Suas habilidades pessoais são mais estratégicas do que as técnicas, e não há escola para formar esse profissional, somente a prática.”

 

A grande demanda torna os salários inflacionados. “Mas eles se ligam muito mais em saber qual é a cultura da empresa que está oferecendo a vaga do que o quanto irão ganhar.”

 

Empresas que não são da área de tecnologia estão em busca de profissionais que desempenhem o papel de interface entre a equipe técnica de desenvolvimento de sistemas e a equipe de negócios, são os analistas de negócios.

 

“Essas duas equipes não conseguem se comunicar, não falam a mesma língua. Esse profissional tem de ter bagagem técnica e entender muito do negócio para propor soluções tecnológicas. Cada vez mais as empresas estão reestruturando suas áreas de tecnologia para implantar esse modelo.”

 

Segundo Gamba, a atividade se mantém em alta no Brasil há alguns anos e vai continuar. “Esses profissionais têm formação em tecnologia, engenharia e ciência da computação. Mas também é uma função para a qual não tem escola, o aprendizado também ocorre na prática.”

 

Formação. A Universidade do Vale do Silício (Udacity) acaba de lançar o programa Nanodegree Fundamentos de Deep Learning. “Os alunos irão aprender como aplicar a inteligência artificial para resolver problemas do dia a dia das empresas”, diz o diretor geral da Udacity para América Latina, Carlos Souza. Segundo ele, no Brasil essa formação ainda é restrita a alunos de mestrado e doutorado. “Lançamos o curso em português para suprir a demanda do mercado que busca pessoas para trabalhar com inteligência artificial. Os alunos irão aprender a utilizar deep learning em infinitas aplicações.”

 

Novas atividades surgem para atender carências específicas

O diretor de cultura e finanças da Involves Tecnologia e Inovação, André Krummenauer, diz que a função de analista comercial sales ops é relativamente nova no mercado nacional. “Empresas de tecnologia que têm time de vendas que geram dados durante o processo comercial são potenciais contratantes de sales ops.”

Segundo ele, esse profissional dá apoio ao time de vendas, com base em dados estratégicos. “Ele analisa dados com foco na área comercial, inteligência de mercado e negócios, definido indicadores para controle de resultados e criação de processos comerciais eficientes.”

Krummenauer diz que sem esse profissional a empresa tende a tomar decisões baseadas em feeling. Engenheiros, matemáticos e físicos podem atuar na área.

 

Já a função de customer success surgiu por necessidade de empresas que vendem software e tem por objetivo garantir a satisfação dos clientes. “Nessas empresas, o atendimento é extremamente qualificado. Esse profissional garante que o cliente tenha sucesso com o software. Além de treinar como utilizar a ferramenta, também constrói plano de ação para a adoção do software”, diz o gerente de produto da Resultados Digitais, Guilherme Lopes.

 

Diretor da Yoctoo, especializada em recrutamento para a área de TI, Henrique Gamba conta que uma posição com a qual tem trabalhado bastante é um misto entre marketing, negócio e tecnologia, voltada à experiência do usuário e chamada user experience (UX).

 

“São profissionais dedicados a estudar a experiência que o usuário terá ao utilizar um aplicativo ou site. Ele orienta desde onde será colocado um determinado botão, até a melhor cor para ser usada na tela, com o objetivo de melhorar a visualização.”

 

Ele afirma que a atuação está muito ligada à internet, mas também está relacionada ao estudo do comportamento humano e antropologia.

Segundo ele, outra função que está muito em alta é a de inovação, é voltada para profissionais que além de conhecer muito de tecnologia, estão sempre monitorando globalmente o que há de novo no mercado.

 

“Eles estão sempre antenados e com novas ideias para propor soluções ao negócio. Acabamos de fechar uma posição de gerente de inovação para uma grande empresa de metalurgia, que criou o cargo com objetivo de desenvolver projetos a médio e longo prazo.”

 

O termo ‘growth hacker’, que começou a ser utilizado no Vale do Silício, está chegando ao Brasil para designar o profissional que atua com foco no crescimento geral da companhia.

 

“A função pode ser exercida por profissionais multidisciplinares, oriundos dos mais diversos campos de estudo. O trabalho tem como foco o crescimento geral da empresa. Esse profissional adota estratégias que fogem das práticas tradicionais de marketing e vendas”, diz o gerente de growth hacker da Resultados Digitais, Gabriel Costa.

A demanda, segundo o gerente da divisão de marketing da Talenses, Felippe Virardi, vem de startups do segmento de área de tecnologia.

 

“O perfil é de um profissional criativo, disciplinado e obcecado por resultados e crescimento do negócio. Não há formação especifica, mas conhecimentos técnicos fazem com que saiba usar as ferramentas digitais corretamente. Além disso, é importante que tenha capacidade analítica e visão estratégica forte”, diz Virardi.

 

Fonte: Estadão