Apesar da queda do petróleo, preço do combustível pode ser mantido

16/10/2014

O fim da defasagem nos preços dos combustíveis, causada pela queda na cotação do petróleo, praticamente zera a preocupação dos gestores da Petrobras com o reajuste dos combustíveis.

 

A decisão de manter os preços não mais causa perda, como ocorria até o início do mês. Mas o prejuízo desde 2011 com o desalinhamento chega a quase R$ 60 bilhões.

 

"A ideia da empresa sempre foi zerar as perdas. Sem defasagem, o governo vai ficar quieto. Nunca se falou em recuperar o que foi perdido no passado", disse à Folha uma pessoa próxima à administração da empresa, que pediu anonimato.

 

O preço da gasolina, que já foi 20% menor no Brasil, está quase 5% acima do preço externo. Para essa fonte, isso também não significa redução de preços.

 

"Isso seria demagógico. A empresa vai aproveitar para ganhar um pouco também."

 

A situação será analisada mais de perto na próxima reunião do conselho da Petrobras, prevista para o dia 31 de outubro. Na última reunião, no final de setembro, ainda persistia a defasagem.

 

A perda de R$ 60 bilhões, segundo cálculos da Gradual, considera as exportações e importações de combustíveis e de petróleo desde 2011.

 

Ao se referir, ao longo deste ano, à cobrança imposta pelo conselho de administração de reduzir a dívida líquida da empresa, de R$ 242 bilhões, a presidente Graça Foster sempre disse que buscava a "convergência dos preços".

 

A convergência tornou-se realidade sem que ocorresse o reajuste, com a queda do preço do barril. Nesta quarta-feira (15), o preço do barril de Brent fechou a US$ 84,08, queda de 24% no ano.

 

O ministro da Fazenda Guido Mantega costumava dizer que a decisão do reajuste era da Petrobras. Na prática, como controlador da empresa, o governo detém 7 dos 10 assentos em seu conselho de administração e, na prática, barrava o reajuste por temer o impacto na inflação.

 

"Não é certo deixar para trás os prejuízos causados pela. A empresa já acumula perdas bilionárias com atrasos e superfaturamento em várias obras", critica Fábio Fuzetti, gestor da Antares Capital, que investe na empresa. Ele calcula que, desde 2002, a empresa tenha deixado de gerar R$ 120 bilhões em caixa devido à defasagem nos preços da gasolina e do diesel.

 

A queda no preço do petróleo acende, para alguns, a preocupação com a viabilidade dos investimentos. O plano de negócios da empresa prevê investimentos de US$ 220 bilhões até 2018, mas tem como premissa um barril em torno de US$ 100 dólares.

 

Flávio Conde, analista-chefe da Gradual, diz, porém, que, se petróleo se mantiver em baixa, os custos da indústria caem, neutralizando a perda da receita causada pelo preço menor do petróleo.

 

Procurada, a Petrobras não comentou o assunto.

 

Fonte: Folha de S.Paulo